Revistas e jornais já divulgaram as ‘décadas de escuridão’ na vida de Madre Teresa de Calcutá. Segundo algumas cartas secretas da beata, ela chegou a duvidar da existência de Deus, vivendo agoniada e experimentando a profunda dor da falta de esperança. Isto sendo verdade, como explicar a dedicação à caridade daquela que foi considerada uma santa viva?
Acredito que não é tão difícil entender o desespero de quem sofre e pensa que suas orações não são ouvidas. A dor da perda de alguém na família, por exemplo, é muito forte e leva algumas pessoas ao desespero. Então, se quem pensa em si próprio chega a chorar por longos períodos, imagine quem sofre por extremo amor aos irmãos!
É isso que deve ter acontecido com Madre Teresa. Trabalhando diariamente para os mais pobres dos pobres, penetrou na intimidade dos miseráveis e começou a assumir o sofrimento de muita gente. Fisicamente enfraquecida, sentiu-se completamente abandonada na fé. Até Jesus bradou na cruz: “Pai, por que me abandonaste?”
Mesmo isto sendo possível, alguém ainda poderá questionar: ‘Mas, por que ela pregava uma boa conduta cristã e a praticava fielmente se não confiava em Cristo?’ Com certeza, não foi bem assim. Ninguém diz que Jesus está em todos os lugares e ganha um Prêmio Nobel da Paz mentindo.
Colocando mais uma vez a minha opinião, penso que ela falava tanto em Deus e bradava a todo instante o infinito amor Divino por ela, que passou a achar que estava exagerando. Eu li vários textos onde a madre disse que Cristo está presente até nos sorrisos que damos e recebemos. Com o tempo, ela sentiu que falar de Deus ou em nome de Deus, nem sempre é fácil e requer grande segurança e responsabilidade.
A Igreja Católica não omite a verdade e considera que crises de fé podem ser caminhos para a santidade. Outros santos já passaram por ausência de fé no coração, como Santo Agostinho, hoje doutor da Igreja. Enquanto não se convenceu de que ‘fé é convicção de fatos que não se veem’, viveu apenas as coisas do mundo.
Voltando à Madre Teresa, 50 anos de escuridão não demonstra completa incoerência da ‘santa da sarjeta’? Segundo o Padre Brian, que conduziu o processo de canonização dela, isso enaltece suas virtudes: “Ela não sentia o amor de Cristo dentro de si e poderia ter se fechado, mas estava de pé toda manhã às 4h30, pronta a se dedicar em tempo integral aos menos favorecidos”. Que exemplo maravilhoso, não!
Portanto, quem quiser criticar o período de escuridão da irmãzinha indiana, precisa ter um coração melhor do que o dela, mas segundo o critério desta história:
Um jovem estava no centro da cidade proclamando ter o coração mais belo da região. Ele o desenhou numa cartolina e todos admiraram aquele coração. Não havia marca ou qualquer outro defeito; então, concordaram que era o coração mais lindo que já tinham visto.
Enquanto o jovem ficava ainda mais orgulhoso por seu belo coração, um velho senhor apareceu diante da multidão e disse:
– Por que o coração dele é melhor do que o meu?
O velho também desenhou o seu coração, dizendo que ainda batia forte, mas estava castigado e repleto de cicatrizes. Havia locais em que alguns pedaços tinham sido removidos e outros tinham sido colocados no lugar, mas estes não se encaixavam direito, formando calombos e irregularidades.
O jovem olhou para o coração do velho e comentou sorrindo:
– O senhor deve estar brincando! Compare nossos corações: o meu está perfeito e intacto; o seu é uma mistura de cicatrizes, enxertos e buracos!
– Sim – disse o idoso. – Olhando, o seu coração parece perfeito, mas eu não trocaria o meu pelo seu. Veja, cada cicatriz representa o pedaço do meu coração que dei às pessoas que entraram na minha vida e doei bastante amor. Muitas delas, deram-me também um pedaço do próprio coração para que eu colocasse no lugar de onde tirei do meu.
Nesse instante, muita gente começou a se aproximar do velho para ouvir melhor suas palavras. Ele prosseguiu:
– Como os pedaços nunca são iguais, formaram-se várias ondulações. Algumas vezes, entreguei pedaços do meu coração a pessoas erradas. Por isso, há buracos que sangram, causam dor, lembrando-me do amor pelo outro desprezado. Portanto, esse é um coração em que as marcas deixadas contam uma história de vida no amor. E então, jovem, qual é a verdadeira beleza de um coração?
O moço estava calado e lágrimas escorriam pelo seu rosto. Em seguida, aproximou-se do velho, tirou um pedaço do seu coração e ofereceu ao senhor de coração partido, que retribuiu o gesto. E o jovem olhou para o seu próprio coração, cortado, não mais tão perfeito, porém mais belo que antes. Os dois se abraçaram e saíram caminhando satisfeitos.
Pois é, como deve ser triste passar a vida com o coração intacto! Aí está a chance de você, leitor(a), enviar um pedaço do seu e receber outro pedaço de volta; ou diga que ama Deus e ignore o pobre. Nesta última opção, infelizmente, você manterá o seu coração intacto.
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Eis o programa de 3 de agosto:
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Livros do autor:
Ø Paulo R. Labegalini
Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).