Boa viagem, novembro. Assim formulei minha despedida deste mês alegre e triste. Estava à janela olhando tudo e o nada. Meu olhar atravessava as coisas sem se deter, daquele jeito de olhar perdido, como quando alguém estala um dedo na frente de meus olhos e ainda assim, eu nem piscar pisco. Só permaneço “em transe”, hipnotizada. Aliás ficar em transe todo esse período não seria má ideia. Dizem que quando estamos com o olhar perdido é que descansamos a mente. É provável porque não elaboramos nada, nenhum pensamento, nem bom nem mau, assim ficamos neutros, desligados de tudo.
Bom, vamos lá, faz trinta e cinco anos que não fumo. Odeio cigarros, o cheiro de longe me faz mal, mas de vez em quando, muito, muito de vez em quando sinto falta do cigarrinho entre os dedos, um simbólico de consolo e de refúgio. De minha janela às vezes assisto à cena de um cara que fuma sozinho de noite, sentado numa cadeira de varanda, fumando e olhando o céu. Pois por este mês de novembro não é que eu quase seria capaz de fumar, qualquer marca que fosse, até aquele antigo continental rascante que nunca fumei. Oh mês de amargar, de cada dia uma surpresa, boa ou má.
Mas tudo passa debaixo do céu e da terra. Vamos chegando ilesos ao final do mês, enfrentando noite e dia, fazendo inverno e verão de frio e calor, a pé, de carro, a cavalo, com fome e sede, entre impropérios e vitupérios, sujeitos às inclemências do céu. Já sei que aquela maravilhosa quietude de idos dias nunca dura mais do que eu gostaria e que de seguro e de exato a vida não tem nada. Pois sejamos fortes e corajosos e verdadeiros.
É fato que às vezes quando procuramos muito uma coisa, acabamos por achar outra. E foi nesses momentos de maior tormenta que me fortaleci. Deus permite tempestades em nossa vida para nosso próprio bem. Deus faz como lhe apraz. Bendito seja Ele para sempre. Não sabemos como será dezembro ou janeiro ou amanhã, ou ainda hoje, mas aqui estarei, de ansiedade em ansiedade, de esperança em esperança. Estarei com meu coração ligado em duzentos e vinte, com um furacão dentro do peito e pensamentos loucos como cavalos selvagens, aliás, como sempre estive.
De noite eu me refaço, afrouxo o laço, deponho minhas armas no chão e me lembro de que todas as coisas passarão.
Boa viagem, novembro! Vai tarde, como dizia minha mãe.
Por Misa Ferreira
Autora dos livros: Demência: o resgate da ternura, Santas Mentiras, Dois anjos e uma menina, Estranho espelho e outros contos, Asas por um dia e Na casa de minha avó. Graduada em Letras e pós graduada em Literatura. Premiada várias vezes em seus contos e crônicas.Embaixadora da Esperança (Ambassadors of Hope) com sede em Calcutá na India. A única escritora/embaixadora do Brasil a integrar o Projeto Wallowbooks. Desde 2009 Misa é articulista do Conexão Itajubá, enviando crônicas e poemas. Também contribui para o jornal “O Centenário” de Pedralva