Hoje subi para recolher alguma roupa e vi uma borboleta pequena que se debatia porque não conseguia achar a saída. Abri mais a janela, mas mesmo assim ela continuava se debatendo. Percebi que a pontinha de uma das asas estava presa no trilho. Com muito cuidado fui tentando soltá-la, até que enfim. Ela saiu pela janela e voou, ganhando os ares. Por um tempo ainda consegui vê-la mais alto e depois não mais. Era pequena na imensidão do céu. Ela voava cumprindo seu destino.
Senti uma profunda honra em ter sido a libertadora de uma borboleta. Entretanto todo este orgulho de ter salvado a borboleta ficou pequeno porque eu sei que jamais salvaria uma barata que tivesse sua asa presa fosse onde fosse. Deus me perdoe. Pode parecer uma coisa bobinha, mas nunca saberemos. Que sabemos dessas criaturinhas frágeis que são pisoteadas, presas por algum cientista para serem estudadas ou têm a ventura de encontrar alguém que as salve? O que sabemos com certeza da vida de uma borboleta é que ao nascer ela é uma simples lagarta dentro de um ovinho. Depois a lagarta come a casca do ovo, aí ela fica parada e forma um casulo. A metamorfose se completa quando uma linda borboleta emerge. É magnífico!
Estava pensando aqui. Todo mundo tem uma história para contar, a vida da gente é uma história, por vezes mais triste do que alegre, a vida de todo mundo daria um livro e muitos bons livros, com histórias de amor, de risos e lágrimas, de angústias e aflições, de ganhos e perdas. É por isso que um diário é legal para quem gosta de escrever. Por que não consigo manter um diário? É só pegar cinco ou dez minutos ao final do dia e destacar o que marcou mais, sei lá, um filme que foi emocionante, um fato ocorrido na rua.
Hoje, relendo partes de um livro, fiquei comovida por me lembrar de que “os golfinhos se recusam a comer após a morte do companheiro, também os gansos procuram pelo companheiro perdido até ficarem desorientados e morrerem”. Os animais, as aves e as criaturinhas como as borboletas têm seus sentimentos que por não serem humanos costumamos chamar de instintos. Mas o que sabemos nós?
Mas hoje, especialmente hoje, se eu estivesse fazendo um diário eu teria simplesmente escrito assim: hoje eu tive a honra de libertar uma borboleta que saiu voando pela imensidão do céu e foi cumprir seu destino. Era amarela, de um amarelo simples com bolinhas ou talvez uns risquinhos pretinhos. Talvez, lá a seu modo, ela tenha me desejado um bom dia, tenha “refletido e pensado” algo assim: que pessoa encantadora, que gentileza ao me salvar, o que jamais uma barata poderia dizer em relação a mim.
Até amanhã, meu querido Diário!