Uma série de manifestações mobilizou milhares de brasileiros em diferentes cidades do país nesta segunda-feira (17). Em São Paulo, os protestos reuniram pelo menos 30 mil pessoas. No Rio de Janeiro, ainda não há estimativas oficiais, mas a Cinelândia ficou tomada de manifestantes. Em Belo Horizonte, entre 18 mil e 20 mil pessoas. Em Brasília, cerca de 10 mil pessoas ficaram concentradas na Esplanada dos Ministérios e parte dos manifestantes chegou a subir a rampa. A chamada “Marcha do Vinagre” terminou com subida ao teto do Congresso Nacional.
Com o mote “Não são apenas 0,20 centavos”, além de se posicionar contra o preço do transporte público, os protestos criticaram a condução da política brasileira, a corrupção, os gastos públicos com as obras para as copas das Confederações e do Mundo de 2014.
As manifestações começaram a tomar corpo na última semana após as ações da Polícia Militar (PM), em São Paulo, que reagiram aos manifestantes contrários ao aumento da tarifa de transporte público na capital paulista. O episódio levou a Defensoria Pública do Estado de São Paulo a questionar a atitude da PM.
Em São Paulo, os manifestantes se concentraram no Largo da Batata e depois ocuparam as oito faixas da Avenida Brigadeiro Faria Lima.
Ao contrário do que ocorreu na última manifestação, na quinta-feira (13) – quando a presença da PM foi ostensiva – ativistas e policiais entraram em acordo para evitar conflitos.
No Rio de Janeiro, as dezenas de milhares de manifestantes marcharam pela Avenida Rio Branco e se dirigiram à Cinelândia, na região central da cidade, onde ocuparam as escadarias da Biblioteca Nacional e da Câmara de Vereadores. De lá, seguiram pela Avenida Almirante Barroso em direção à Avenida Presidente Antonio Carlos até a Assembleia Legislativa do Estado (Alerj). Houve confronto com a polícia e algumas pessoas queimaram um carro e depredaram uma viatura da PM.
Na capital mineira, a concentração do protesto teve início na Praça 7, no centro da capital. De lá, os manifestantes se dirigiram à Arena Mineirão, onde foi disputada nesta segunda a partida entre Nigéria X Taiti, pela Copa das Confederações.
Em Brasília, o protesto começou às 17h. Os manifestantes se concentraram em frente ao Museu da República e, de lá, marcharam em direção ao Congresso Nacional, na Esplanada dos Ministérios. Eles chegaram na cobertura do Congresso e tomaram também o gramado em frente ao Parlamento.
Apesar do caráter pacífico das manifestações, ressaltado pela palavra de ordem “Sem violência”, entoada em todos os protestos, confrontos entre policiais e manifestantes foram registrados em Belo Horizonte, em Brasília e no Rio de Janeiro.
Também houve registro de protestos em Fortaleza, em Curitiba, em Porto Alegre, em Salvador, em Belém e Campinas. Nós próximos dias, as manifestações, convocadas por meio das redes sociais, devem prosseguir.
Em meio à série de protestos pelo país, a presidenta Dilma Rousseff avaliou que as manifestações pacíficas são próprias da democracia. A informação é da ministra da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Helena Chagas.
“A presidenta Dilma Rousseff considera que as manifestações pacíficas são legítimas e próprias da democracia e que é próprio dos jovens se manifestarem”, relatou a ministra.
Dilma acompanhou a mobilização que tomou as ruas em várias cidades do país. No começo da noite de ontem, ela se reuniu com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para tratar do assunto.
Mais cedo, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que o governo está preocupado com os protestos, e quer garantir diálogo com os movimentos para entender “anseios importantes” que têm levado as pessoas a se manifestar.
A manifestação na área externa do Palácio do Congresso Nacional levou o presidente do Poder Legislativo, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), a divulgar nota à população em que reconhece a legitimidade das reivindicações. Renan diz no texto que deu ordens à Polícia Legislativa para que não use de “violência, mantendo apenas a ordem necessária”.
“O Congresso Nacional continuará aberto às vozes das ruas e recolherá todos os sentimentos das manifestações a fim de encaminhar soluções no que lhe couber, como não poderia ser diferente em um ambiente democrático”, diz a nota.
Enquanto isso, o presidente em exercício da Câmara e vice-presidente do Congresso, deputado André Vargas (PT-PR), está reunido com o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. Vargas também divulgou nota em que diz que está acompanhando do gabinete do governador todos os acontecimentos no Congresso e solicitou o reforço de força policial para evitar possível depredação do Palácio do Congresso Nacional.
“O presidente entende ser legítima toda a forma de manifestação democrática. No entanto, sua maior preocupação é garantir a segurança dos manifestantes, dos servidores e do patrimônio público”, diz a nota divulgada pela assessoria de comunicação da Câmara.
O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), bem como a maioria dos líderes partidários, está em viagem à Rússia. A assessoria de Henrique informou que ele está acompanhando toda a manifestação e está preocupado com a integridade dos manifestantes, dos servidores e do patrimônio da Casa.
Os principais jornais do mundo publicaram hoje (18) na capa, com destaque, notícias sobre os protestos de ontem (17) em várias cidades brasileiras. OEl País, da Espanha, estampou a mancheteNossos 20 centavos são o parque de Istambul, comparando os protestos contra o aumento das tarifas de ônibus no Brasil às manifestações na Turquia contra a transformação de um parque em centro comercial.
Com várias fotografias mostrando os confrontos entre policiais e manifestantes, oEl Paísdiz que as manifestações foram as mais violentas, desde 1992, quando houve os protestos contra o então presidente Fernando Collor de Mello. O texto destaca que mais de 200 mil pessoas saíram às ruas das principais cidades do país.
O jornal italianoCorriere della Seradestaca, também na capa, que os manifestantes protestaram contra o aumento dos preços das passagens de ônibus e os gastos públicos com a Copa do Mundo de 2014. As fotos que ilustram a reportagem são do protesto em Brasília, com a ocupação da rampa do Congresso Nacional, e as manifestações nas ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro.
OCorriere della Seramenciona a afirmação do secretário-geral da Presidência da República do Brasil, Gilberto Carvalho, que disse que a presidenta Dilma Rousseff está “preocupada” com os protestos.
O jornal britânicoThe Guardianressalta, na reportagem, que a maioria das manifestações começou de forma pacífica, mas ao longo dos protestos, houve enfrentamento entre manifestantes e policiais. O jornal destaca a informação da ministra da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas, de que Dilma acredita que “os protestos pacíficos são legítimos e adequados”.
No texto doThe Guardian, há informações de que os líderes dos protestos usaram as redes sociais, como o Facebook, para chamar os manifestantes para os atos.
O jornal francêsLe Mondepublicou uma reportagem, em tópicos, destacando as manifestações em Brasília, São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. A violência é ressaltada no texto e nas fotografias de manifestantes feridos. Há, ainda, menção ao jogo do Taiti e da Nigéria, em Belo Horizonte, na Copa das Confederações. O estádio em que ocorreu a partida também foi alvo de protestos.
O jornal norte-americanoThe New York Timespublica um texto com vários adjetivos informando que os manifestantes reclamaram do “alto custo de vida e gastos extravagantes” com a Copa do Mundo de 2014. Também faz críticas à ação policial, avaliando que houve o uso da “mão pesada” por parte dos policiais.
NoThe New York Times, há uma galeria com imagens de manifestações em várias cidades do país. O texto compara os protestos no Brasil aos ocorridos na Turquia, em Nova York e Oakland, nos Estados Unidos, na Espanha, na Síria, na Líbia, no Bahrein, no Egito e na Tunísia.
Fonte: Agência Brasil