A pesquisadora do Instituto de Recursos Naturais da Unifei, Professora Michelle Reboita, recebeu, ao lado das convidadas Eliane Moura, catadora autônoma, e Raquel Dastre, assessora da Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Sociais (CIMOS), um órgão do Ministério Público, que discute os avanços e desafios da coleta seletiva em Itajubá. O debate teve como ponto de partida o 3º Fórum Lixo e Cidadania, realizado em 25 de novembro, que tratou das condições de trabalho e da remuneração dos catadores autônomos do município.
Segundo Michelle Reboita, Itajubá não conta com um serviço de coleta seletiva oficial, e o trabalho de separação de recicláveis é feito, há décadas, por catadores que atuam de forma independente. Ela destacou a importância da fala da promotora Sumara, organizadora do fórum, que pediu reflexão sobre como ficaria a cidade caso os catadores deixassem de atuar por uma semana. “É um serviço essencial e invisível”, ressaltou.
Para Eliane Moura, sensibilizar a população é um dos maiores desafios. “A gente precisa que as pessoas entendam a importância de separar o lixo. Hoje tiramos muito pouco material reciclável porque não há incentivo”, afirmou. A catadora lembra que a separação básica em lixo seco e úmido já traria enorme benefício ao meio ambiente e às condições de trabalho. Ela reforçou ainda a necessidade de descartar vidro e outros materiais cortantes de forma segura. “Isso machuca catadores, garis e até animais.”
Raquel Dastre reforçou que, embora existam ações pontuais em algumas escolas, falta uma política ampliada de educação ambiental e, principalmente, a formalização da coleta seletiva pelo município. “Onde o serviço é regular e confiável, as pessoas aderem. Aqui, quem garante essa regularidade são os catadores autônomos, que criam vínculos com moradores”, explicou. Para ela, o desafio está em estruturar um sistema que inclua os catadores já atuantes, garantindo dignidade e remuneração justa.
Os números apresentados impressionam: enquanto as duas associações formais contam com cerca de 45 membros, estima-se que entre 250 e 300 catadores autônomos atuem em Itajubá. “É muita gente trabalhando no invisível”, afirmou Eliane.
Raquel destacou ainda que Minas Gerais conta com mais de 120 municípios no Programa Lixo e Cidadania, mas nenhum ainda conseguiu incluir de forma plena e formalizada os catadores autônomos. O sul de Minas, segundo ela, é a região com maior número desses trabalhadores, devido à proximidade com os centros de comercialização de recicláveis.
Eliane lembrou o esforço pessoal e coletivo para conscientizar a população, citando eventos e palestras realizados por grupos de apoio. “A população quer separar, mas muitas vezes não tem informação ou incentivo. Um simples gesto, como colocar duas lixeiras em casa, já ajuda muito.”
Michelle Reboita reforçou que a reciclagem não é apenas uma questão de saúde pública e inclusão social, mas também de impacto ambiental. “Se reciclarmos mais, menos áreas naturais serão destruídas. Isso influencia no microclima local e no clima global. As próximas décadas serão desafiadoras.”
Ao encerrar, Raquel apontou que a Prefeitura se propôs a produzir vídeos educativos sobre o tema, com participação dos próprios catadores. A iniciativa deve compor ações de conscientização voltadas à população.
Por Redação, com informações de Michelle Reboita, Eliane Moura e Raquel Dastre