A pedido do meu amigo Otávio Scofano, estou iniciando uma série semanal no Conexão Itajubá, página eletrônica, sobre Cidadania e suas implicações.
O termo cidadania surge da palavra em latim Civita que corresponde à palavra grega Polis (Cidade). O ser cidadão é, antes de qualquer coisa, um ser político. Daí o conceito de política com significado de ação consciente na melhoria da sua cidade e, na ausência desta, a substituição pela ação da polícia.
O ser cidadão extrapola o ser indivíduo e este, quando desprovido do conceito de direitos e deveres, procura cotidianamente a satisfação pessoal como meio de interação com o público, acarretando no estímulo exacerbado do eu individualista, necessariamente, desprovido de sentimento de culpa.
O ser cidadão entende que o desequilíbrio do social deixa marca indelével no seu habitat e, consequentemente, atinge diretamente a sua pessoa. Direitos e deveres são importantes mecanismos de organização social e o estrito cumprimento aditado pelo posicionamento crítico de revisão constante da moral e dos costumes flexíveis no tempo histórico garantem a certeza de que sua existência é vã, mas carregada de interatividade com o meio.
O conceito de Cidadania surge na Grécia como reação aos governos despóticos e teocratas do oriente e se consolidam na democracia direta liderada pelo político Clístenes, determinando o surgimento do período clássico, até hoje sinônimo de ideal a ser perseguido por todo pensador liberal e defensor incondicional dos famosos Direitos Humanos.
O ideal de cidadania grega se insere no quadro do chamado Ócio Criativo, cujo funcionamento exigia uma grande quantidade de escravos responsáveis pela atividade braçal, para que o corpo de cidadãos atenienses se dedicasse à atividade do livre pensar e do debate pelas soluções públicas da sua Polis.
Com a queda de Roma e o aparecimento das invasões bárbaras, a Igreja Católica se aproveita deste declínio cultural para impor a ideologia cristã do apóstolo Paulo e de Santo Agostinho na defesa da predestinação, ou seja, os homens já nascem com seus destinos traçados e, portanto, não devem decidir sobre a vida mundana, se resignando a esperar os sinais do céu.
Este período de perda de cidadania por séculos teve fim com o Renascimento urbano, comercial, científico e cultural na transição da Idade Média para Idade Moderna, com o surgimento da burguesia desejosa de se desvincular do imobilismo feudal e recompor o quadro dinâmico de uma retomada da produção e troca de produtos, ambos responsáveis pela formação do futuro Sistema Capitalista.
A burguesia preparou, gradativamente, sua chegada ao poder juntamente com a a formação ideológica de seus quadros intelectuais na elaboração de um projeto de convencimento de toda população da sua verdade como universal e natural, o que deveria ser seguido por todos.
Surge daí o projeto iluminista e liberal definidor dos rumos do capitalista até os dias atuais, passando por mudanças conjunturais necessárias ao acompanhamento da modernidade, sem mexer na sua estrutura de funcionamento.
Nesse ínterim, as Revoluções burguesas foram fundamentais no campo da política para o resgate de liberdades individuais antes inexistentes no modelo feudal e absolutista, dado a marca de nascença de seus governantes autocratas, o projeto burguês de igualdade jurídica, ou seja, isonomia dos cidadãos diante da lei. Modelo baseado no período Clássico Greco-romano.
No campo econômico acontece o aprofundamento da desigualdade financeira, em face da separação do capital e do trabalho, principalmente, na Revolução Industrial, na qual as máquinas que deveriam servir ao Ócio Criativo, homens com tempo livre para o livre pensar, foram utilizadas para o Ócio perverso, a exclusão do processo produtivo e o tempo livre para a criminalidade, esta última como forma de sobrevivência.
A exploração de mulheres e crianças, bem como a criação de mecanismos como o Fordismo e o Taylorismo, criados com o sentido de coisificar o corpo, tornaram sua atividade rotineira e desqualificada, transformaram o hiposuficiente em refém do hiper e, consequentemente, reprodutor do discurso do outro.
Nesta perspectiva, surge o pensamento socialista, defendido por diversos pensadores de esquerda, com destaque para Karl Marx, levantando a bandeira de ocupação desta máquina produtiva diretamente pela classe produtora.
No século XX, o modelo socialista se torna presente na Rússia, se espalhando pelo mundo depois da segunda Guerra Mundial, mas, sem conseguir efetuar a transição do Socialismo para o Comunismo, perde força e, hoje, se limita a poucos países que se sustentam as duras penas, cercado pelo grande capital Neoliberal.