Aconteceu que um casal muito jovem com dois filhinhos vieram para frente do primeiro banco onde estávamos. A mãe, uma graça de menina linda dava a mão para a filhinha e o pai vinha logo atrás empurrando um carrinho com um bebê. De repente o moço tirou o celular e enquadrou a família, fazendo um selfie que captou todos sorrindo felizes tendo como fundo o altar e as paredes com imagens coloridas da igreja. Para minha surpresa o moço mostrou a foto para o bebezinho e ele sorriu exultante como se estivesse entendendo tudo o que significava e quem pode dizer que não? Percebi que a garotinha sentiu ciúmes e se enrodilhava nas pernas do pai dando uma clara manifestação do complexo de eletra. Os pais trocaram um olhar de cumplicidade e o moço, astuto, percebendo a carência da menina, abaixou-se, mostrou a foto para ela também. A menina vibrou com a atenção recebida. O bebezinho ficou aos cuidados da mãe e a menina foi embora feliz nos braços do pai. Naqueles pequenos momentos fiquei pensando se daqui a vinte anos o casal estará sorrindo. Estarão juntos até lá? Ou não serão capazes de resistir aos revezes da vida? Porque os revezes às vezes vêm inesperadamente com a intensidade de um tsunami. Aquela fase do início, em que tudo são flores passa, os filhos crescem, mostram seus temperamentos, sobrevêm doenças ou dificuldades financeiras, conversas são necessárias, desentendimentos acontecem, discussões são inevitáveis, palavras duras são trocadas, o casal se estranha, dormem agora de costas um para o outro e as mágoas são guardadas até que então chega o tempo em que o amor enfraquece e a chama se apaga. Não, a vida de casados não é fácil, mas é possível, é louvável tentar, é preciso amar. São felizes agora e não se dão conta de que a felicidade é frágil, fugidia, trapaceira. Mas ainda assim vale a pena tentar. Nunca saberei se continuarão felizes para sempre. Talvez sim porque são tão jovens e já se alegram com dois filhos, coisa impensável para muitos casais nesses tempos de modernidade, de vida difícil em que todos trabalham. Gostaria de dizer a eles que devem fazer de tudo para manter e perdurar esses momentos alegres, que se acolham sempre e que se perdoem diariamente, que não sejam tão duros nos momentos em que o que mais se precisa é de um abraço. Entre esperançosa e amedrontada com tantas elucubrações derrotistas, logo eu que sou tão feliz em um amor tardio, odiei sentir-me acossada por pensamentos lúgubres. Afugentei as bruxas e disse para minha tia: que lindo casal jovem! A moça ouviu, olhou para trás e me deu de presente um sorriso maravilhoso como a me tranquilizar, a dizer que eu estava enganada. Eu sorri plena de esperança.
Fui apenas uma testemunha ao acaso de sua felicidade de hoje. Espero que sejam felizes para sempre. Com todo o meu coração.
Misa Ferreira escreveu e publicou os livros: Demência, o resgate da ternura (autobiográfico) /Santas mentiras (Crônicas) /Dois anjos e uma menina (infantil) /Estranho espelho e outros contos, além da coluna “Verbo Inverso“.