Um pensamento de Andréa Cristina Silva
Você sente que sua vida se resume a resolver problemas e que sua mente não tem espaço para mais nada?
Pois assim era a minha vida. Até alguns anos atrás, eu me sentia sobrecarregada de problemas, minha mente parecia não ter espaço para mais nada, e isso consumia toda a minha energia.
Mas, certo dia, fui convidada para assistir a uma palestra pública na Fundação Logosófica. Na palestra eu aprendi que “devemos colocar os problemas dentro da vida, e não a vida dentro dos problemas, que devemos enxergar os ‘problemas’ como situações que precisam ser superadas e demandam de nós, às vezes mais, às vezes menos atenção”.
Essas palavras mexeram muito comigo, fizeram-me refletir e ver que eu ficava o dia todo correndo para lá e para cá com uma única finalidade: tentar resolver os problemas que eu achava que possuía. Eu estava cansada de viver assim, por isso decidi colocar em prática o que aprendi na palestra.
Isso não foi fácil no início, mas não desisti. Resolvi estudar Logosofia. Eu queria aprender sobre os pensamentos, os problemas, e tudo mais que ouvi naquela palestra.
Comecei a observar que eram os pensamentos que definiam a forma como eu dimensionava os problemas. Às vezes, pequenos problemas assumiam proporções gigantescas. Passei, então, a ficar alerta para não deixar que esses pensamentos dominassem minha mente, pois, quando isso acontecia, eles a transformavam em um tsunami de problemas.
Agindo assim, fui me habilitando a ver os problemas sob uma nova perspectiva e a dar-lhes uma nova dimensão.
A partir dessa pequena mudança na forma de observar os pensamentos, minha vida começou a ficar mais leve. Os problemas não haviam desaparecido; eles continuavam ali, mas agora não eram mais as personagens principais da minha existência. Tornaram-se situações que eu precisava resolver, nada mais.
No final de 2018, fui convidada por uma outra estudante de Logosofia para ser personagem em uma contação de histórias. Aceitei o convite com muito prazer, pois, mesmo que eu nunca tivesse contado histórias, considerava-me uma pessoa comunicativa — pensei que seria simples, mas não foi bem assim.
Minha personagem quase não tinha fala, eu praticamente compunha o cenário, mas, durante a apresentação, fui dominada pelo medo, senti meu corpo congelar, um aperto na garganta, e o coração batia forte. Não conseguia entender o que estava acontecendo.
Essa experiência, aparentemente simples, tocou-me bem lá no fundo, fazendo emergir sonhos antigos não realizados, recordações, inúmeros questionamentos não respondidos.
Também fez ressurgir uma antiga sensação de vazio. Eu não entendia o porquê desse vazio existir, afinal, já havia conquistado tudo que comumente se almeja: tinha casa própria, carro, uma ótima profissão… mas não era o suficiente, eu sentia que faltava algo.
Diante de toda essa movimentação interna, decidi buscar nos estudos logosóficos aquele algo que me faltava. Intensifiquei meus estudos e passei a me dedicar, ainda mais, ao conhecimento de mim mesma. Queria entender tudo aquilo que havia sido trazido à tona naquela experiência tão simples e marcante.
No começo de 2019, presenteei a escola da minha filha com um livro – “Os óculos do invisível”. A coordenadora ficou tão encantada com a história que me ligou para agradecer, disse-me que precisaríamos apresentar aquele livro para as crianças, e que isso deveria ser feito através de uma contação de histórias.
Nesse momento senti um calor, uma alegria intensa, senti como se algo pulasse dentro de mim, então me ofereci para contar a história, bastava ela marcar o dia.
Logo depois veio o pânico. Pensamentos negativos invadiram a minha mente, eu comecei a achar que estava ficando maluca, eu não conseguiria realizar o combinado. Eu comecei a questionar a minha decisão: afinal, porque eu havia aceitado o desafio de contar aquela história depois da experiência anterior?
Mas os pensamentos de medo não foram suficientes para me fazer desistir. Aquela alegria interior, aquele calor interno continuavam presentes e não deixaram que aqueles pensamentos negativos me dominassem. O meu espírito vibrava e me fazia sentir que eu conseguiria.
Eu queria que as crianças interagissem com a história através dos óculos de ver o invisível, iguais aos que vem no livro. Pensando assim, decidi reproduzir os “óculos” que acompanhavam o livro. Acionei os meus conhecimentos de policial e descobri qual era o material especial utilizado nas lentes dos óculos. Pouco tempo depois, estava tudo pronto, eu sabia a história de cor, tinha slides, banners interativos e, claro, óculos iguais aos do livro para cada criança.
Contei esta história pela primeira vez para quase 90 crianças, mas antes da contação, durante o caminho de casa para a escola, precisei lutar muito contra os pensamentos que tentavam me convencer que eu iria esquecer a história, que eu erraria tudo, que as crianças não gostariam. A batalha foi feroz, mas, com a ajuda da Logosofia, eu sabia como vencer essa luta. A experiência da primeira contação de história me trouxe uma sensação — durante e depois da atividade — simplesmente maravilhosa. Resolvi mudar completamente a minha vida e, atualmente, dedico boa parte do meu tempo à contação de histórias.
Tomada essa decisão, comecei a me capacitar, fiz vários cursos, oficinas, aprendi muitas técnicas e comecei a ir às escolas contar histórias. Eu estou aprendendo a escolher cada história com cuidado, pois meu objetivo é levar elementos de bem para crianças, jovens e adultos.
Desde que iniciei a contação de histórias, venho descobrindo dentro de mim aptidões que sequer sabia possuir. Descobri em mim uma professora adormecida, dou maior importância à sensibilidade, comecei a escrever poemas, gravar vídeos e a tocar um instrumento musical.
A cada história que eu conto, aprendo algo novo, descubro um pedacinho de mim que não conhecia. Hoje, percebo que contar histórias, levando alegria e valores para as crianças, é a minha forma de fazer o bem, retribuindo o bem que recebi e continuo recebendo a cada dia.
Desde aquela palestra, quando fui apresentada à Logosofia, tenho vivido experiências fantásticas, aprendendo a preencher, com alegria e ações de bem, aquele antigo vazio que me acompanhava e que hoje já não me acompanha mais.