Finalmente comprei um PC novo. Que alegria! Poxa, eu merecia! Uma escritora que vive com seu notebook debaixo do braço pra lá e pra cá o tempo todo, usando uma espécie jurássica da era terciária daquelas? Não era possível. Criei coragem e comprei. Tudo bem. Só que não é uma nem duas vezes que meu marido me flagra lá na bancada da cozinha digitando no notebook velho. Minha filha, diz ele, quando você vai criar coragem e digitar no novo? Eu me defendo, vou aos poucos, um pouquinho em cada dia.
A verdade é que sou uma conservadora assumida. Uma parte protetora de mim sempre quer tornar tudo seguro e certo como se a vida fosse segura e certa. Ledo engano, santa ingenuidade. Como simplesmente abandonar meu PC antigo? Eu me sentia tão bem com ele, fiel companheiro de crônicas e poemas que adorei fazer. Tenho dificuldade com a tecnologia, muitas pessoas idosas também têm. O PC antigo era mais macio, eu já sabia onde estava tudo na minha bagunça familiar. O novo é tão estranho, não é a minha casa, mas sei que aos poucos eu me adapto, a gente se adapta com tudo nesta vida.
Há alguns anos meu marido me presenteou com uma smart TV. É lógico que eu adorei, pois ia poder ter a Netflix e outras modernidades. Mas quando me vi com aquele controle remoto diferente, com uma TV toda diferente, tive vontade de chorar. Que bobagem, logo eu me adaptei, é claro.
Sou avessa à mudança, eu sei. Ensaio para mudar os móveis de lugar e acabo desistindo. Quando minha ajudante vem quinzenalmente, certamente eu tenho que colocar as coisas de tal modo como estavam. Ela já sabe, mas algumas coisinhas eu ajeito daqui e dali como pra me certificar de que estão do meu agrado. Até o paninho da pia eu tenho um jeito especial. Um pouco de TOC, sem dúvida.
Relaxar é o remédio, abraçar as mudanças. Mas essas mudanças bobinhas são migalhas perante as mudanças repentinas na vida, perda de alguém, doenças, decepções, ou seja, coisas que não temos o controle. O jeito é o senso de humor, é conversar com a gente mesma, coisa que faço desde o BB, quando também conversava com as fichinhas do arquivo do Seu Joaquim que me ensinou o serviço. Quando estou aprendendo alguma coisa, eu digo baixinho: isso Misa, muito bem! Parabéns!
Como dizia Guimarães Rosa: “num cunvém fazer escândalos de início, é só aos poucos que o escuro que fica claro.” Aos poucos vou me acostumando com os aparelhos novos e com novas mudanças. A vida é mudança.
Meu marido é bem melhor do que eu em tecnologia e em muita coisa mais. Mas para uma coisa ele foi resistente: usar o whatsapp. Só agora há menos de mês que ele encarou. Mas não olha diariamente, os filhos mandam mensagens e ele não vê. Qual não foi minha surpresa outro dia enquanto ele estava na rua quando li sua mensagem: tira o feijão do congelador. Não pude deixar de sorrir.
P.S. Ainda não estou tomada de amores pelo PC novo, mas, enfim, o estranho vai se tornando familiar. É da vida.