Na época eu apenas via o visível, então para não me perder de todo, ficava repetindo em voz silenciosa o meu nome, os nomes de meus pais e de meus irmãos, meu endereço, minha data de nascimento, enfim, todas essas coisas que aparentemente compõem uma pessoa, e que eu temia esquecer. Eu buscava e me apegava à minha referência terrena. Não podia perceber ainda que eu já vinha única, formada, que não importava o endereço, a idade ou os nomes. Minhas pegadas a chuva não poderia apagar, e minhas lembranças o vento não poderia levar. Os elos rompidos nunca o foram de fato, pois corria entre eles um fio de vida que não poderia ser desintegrado jamais. Porém eu não sabia que havia um outro lado da gente.
Eu já era inteira, bastava apenas perder o medo de abrir as mãos e soprar minha alma no alto de um penhasco, deixá-la voar livre em sua ânsia de espaço. Os abraços de despedidas sempre retornariam em abraços de reencontros. Bastava apenas fechar os olhos para ver que eu era quem era, bastava apenas perguntar com coragem: quem sou eu? De onde venho? Para onde vou? Aí, sem medo de esquecer os nomes, os endereços e os apegos terrenos, uma trilha divina e eterna se abriria imediatamente diante de meus pés e eu seguiria confiante, sem me importar com o efêmero.
No entanto, lancei-me sôfrega na vida a procurar pelos fragmentos perdidos, e sem que eu soubesse, nessa perda é que permaneceu, enfim, o melhor de mim.