Um dia a felicidade é imensa, tão grande que até parece eterna e imutável.
Mais um dia, e uma dor terrível se apresenta, bem na sequência da alegria, varrendo a memória de ontem prá longe.
Ou então é o contrário: a dor, tão intensa que rasga o corpo em pedaços, e depois a alegria que apaga o sofrimento, tão bem apagado que quase desaparece da alma.
Assim é quando a mulher tem o filho que esperou pacientemente por meses a fio de construção de ossos, sangue, músculos e alma.
A entrada na vida é assim: dor e alegria encadeadas, unidas como gêmeas.
A morte inverte a ordem dos sentimentos: a gente ama, é feliz pelo tempo que a vida nos concede essa pausa, jura que é eterno, acredita que pode prender no peito o ser amado.
E por algum tempo a ilusão se mantém acesa, e até parece verdadeira.
Até que um dia, num só golpe, a natureza pede de volta o tempo que nos deu. A morte exige espaço e, sem pudor, nos rouba a alegria, a esperança e a fé. Parece até que prá sempre…
O escuro nos envolve, o gelo cobre a alma, o coração bate tão lento que mal sustenta a vida.
Uma caverna abafada recolhe os nossos gritos, e ecoa o terror da solidão que se instalou na alma.
Nem a luz do sol nem o branco calor da lua nos alcançam, e por muito, muito tempo.
Um dia, enfim, um clarão difuso nos acorda.
É a luz vida que se impõe outra vez, no ciclo eterno da vida e da morte. E como uma fênix renascemos do limbo e do fogo da morte que nos destruiu e devagar, bem devagar, reaprendemos sobre a felicidade.
O mundo já não é o mesmo e nem jamais será como já foi antes. Mas será o mundo novo que construímos com sangue e dor, e será nosso…
Maria das Graças Mota Cruz de Assis Figueiredo
Profa. Adjunta de Tanatologia e Cuidados Paliativos
Faculdade de Medicina de Itajubá – MG