Estavam reunidos na floresta: um pássaro, um peixe, um coelho e um pato. Conversavam sobre suas habilidades e modos de lidarem com as adversidades da vida. A respeito da possível aproximação de um caçador, disse o pássaro: ‘Eu saio voando como um foguete.’ O peixe, por sua vez, comentou: ‘Se aparecer um caçador, eu nado com toda minha destreza e velocidade.’ O coelho, ponderou: ‘No meu caso, corro como uma bala.’
Demonstrando um certo ar de superioridade devido a aparente limitação de seus companheiros, o pato deu um passo à frente e declarou: ‘Eu não terei problemas em me safar, pois além de voar, sei nadar e correr. Farei qualquer uma dessas coisas, pois tenho várias habilidades e usarei a que for mais conveniente.’
A conversa seguia seu rumo quando, de repente, surgiu um caçador na floresta. Sem demora, o pássaro alçou voo, o peixe nadou rapidamente para o fundo do rio e o coelho saiu em disparada. O pato, porém, foi apanhado. Com tantas habilidades, não conseguiu definir a tempo a melhor estratégia de fuga!
Pois é, muitas vezes passamos a vida inteira adquirindo conhecimentos sobre assuntos que pouco acrescentam ao nosso futuro, relegamos os ensinamentos do Evangelho e caminhamos para locais distantes do objetivo que Deus nos deu. Vale a pena viver assim?
Há pessoas com erudição em muitas áreas, mas, por serem indecisas na fé, não conseguem superar em paz os desafios que a vida apresenta. É importante termos certeza que cada ser humano tem um talento especial que, lapidado e polido, o levará ao Céu. Porém, para se chegar lá, é preciso ser bom sempre!
E, falando em ‘ser bom’, há algum tempo recebi um e-mail de uma amiga com uma história que viveu junto com uma boa senhora:
“Numa tarde de dezembro, uma amiga veio me trazer um prato de quibes. Exímia em comida árabe, sempre me ofertava essas preciosidades. Fomos para a cozinha fazer um pequeno lanche e saborear os quibes quentinhos.
Conversando sobre diversos assuntos, ela olhou para o forno micro-ondas na parede e disse: ‘Puxa vida, um dia ainda quero ter um forno desses. Dizem que é uma maravilha! O que você acha?’ Respondi: ‘Na verdade, eu só o uso para esquentar a comida quando vou comer um mexido.’ Então, ela contou tudo o que faria se tivesse um forno daqueles.
À noite, fiquei pensando: ‘Meu Deus, por que uma mulher que trabalhou a vida inteira, lutadora incansável, boa esposa, mãe e avó, prestes a completar 50 anos de casada, não tem um forno tão simples e barato como esse? Tem coisas que não posso entender…’
No dia seguinte, liguei para meu filho e pedi que me ajudasse a comprar um forno. Fomos cedinho para o Shopping BH e, de loja em loja, procuramos um que fosse adequado para ela, pois a família é grande e o modelo do meu não serviria. Achei o forno e comprei.
Com aquela caixa enorme no carro, pensei: ‘Quero deixar na porta da casa dela.’ Cheia de felicidade por estar repartindo o que Deus havia me dado, toquei o interfone e disse com voz de entregador de loja: ‘Uma encomenda pra você! Por favor, venha pegar porque vou deixar aqui no portão.’ Corri para a garagem da casa ao lado e fiquei com o corpo encolhido para que não me vissem.
Abriram a porta, pegaram a caixa e, quando vi que estava tudo normal, saí do meu esconderijo e fui embora. Deixei um papel, representando um cartão de oferecimento e, nele, eu dizia que estava me antecipando às comemorações das Bodas de Ouro, que seria no dia 31 de janeiro.
Quando subi as escadas do meu prédio, abri a porta do apartamento e ouvi a voz dela em prantos, falando na minha secretária eletrônica: ‘Você me mata Jandyra! Olha, estamos todos chorando de emoção… de felicidade. Sei que foi você, pois ontem conversamos sobre o forno micro-ondas.’ E, em lágrimas, disse muitas coisas elogiosas à minha pessoa.
Chorei de emoção também. Como é bom fazer alguém feliz! Não me custou quase nada e para ela foi a realização de um desejo de anos e anos. Ela que sabia usar o micro-ondas não o tinha e eu, que só esquentava comida, tinha o meu meio encostado no canto da cozinha. Não achei justo.
Professor, estou revelando este acontecimento porque estava lendo uma mensagem que recebi e, lá, dizia que devemos repartir tudo o que temos. O homem que escreveu a mensagem contou que foi à cozinha e viu dois perus. Ficou com um e levou o outro para um amigo pobre que morava no final da rua. O amigo nem ficou sabendo quem o havia colocado na sua porta, e pensou: ‘Vou levar o franguinho que assei para a fulana, que não deve ter nada para comer neste Natal.’
E as coisas foram sendo entregues sem que ninguém visse, de um amigo para outro, até que terminou num pedaço de bolo que uma criança ia comendo pela rua e, deixando cair o farelo, alimentava os pombinhos que vinham atrás – também comemorando o Natal.”
Pois é, há certas coisas que Deus nos mantém informados para que possamos saber os desejos dos nossos irmãos e, assim, repartir o que temos com eles. O Senhor sabe que, para alguns, tudo é tão difícil neste mundo e, para outros, as necessidades são obtidas em abundância e com grande facilidade!
Não podemos negar que é gostoso ver pessoas chorando de felicidade, não é mesmo? É sempre bom demais!
Prof. Dr. Paulo Roberto Labegalini é engenheiro graduado pela Faculdade de Engenharia Civil de Itajubá, especializado em Matemática Superior pela Faculdade de Filosofia e Letras de Itajubá, mestre em Ciências pela Escola Federal de Engenharia de Itajubá e doutor em Qualidade pela Escola Politécnica da USP.
É autor de 7 livros e mais de 100 artigos publicados nas áreas de gerência geral, qualidade e educação; professor do Instituto Federal Sul de Minas em Pouso Alegre; e vicentino na Comunidade Nossa Senhora do Sagrado Coração em Itajubá. Confira sua coluna “Mensagens para o Coração”.