Um dos principais parceiros comerciais do Brasil, a Argentina, está enfrentando uma grave crise no pagamento de sua dívida externa. Às portas de decretar um calote técnico, o país poderia ter uma baixa significativa nos níveis de importação de produtos brasileiros. A dívida com os chamados fundos Abutre remonta à crise de 2001. Naquele momento, a Argentina estava afundada em dívidas e não tinha maneira de reestruturar sua economia sem suspender o pagamento dos U$ 100 bilhões aos seus credores.
Quatro anos depois, no governo de Néstor Kirchner, o país tentou recuperar a credibilidade oferecendo, a quem havia sido prejudicado pelo calote, pagamentos com descontos acima de 70%. Mais de 90% dos credores aceitaram a proposta e, desde então, vêm recebendo esses pagamentos em parcelas. Os que não aceitaram, no entanto, recorreram a tribunais internacionais.
O que parece razoável na verdade é um problema, por causa da cláusula chamada Rufo (sigla em inglês para Rights Upon Future Offers) que determina que se o país oferece melhores condições de pagamento a um credor, teria de oferecer as mesmas condições a todos os demais. Ou seja, se a Argentina decidisse pagar os credores que exigem o pagamento total da dívida, os demais também teriam direito de receber e iriam recorrer.
A rigor, o país tem dinheiro para pagar a dívida reestruturada (renegociada), mas uma pequena parte dos credores não quer receber com desconto e como ficou determinado que enquanto essa minoria não receber o pagamento dos demais não pode ser feito a situação se complica ainda mais, pois agora nenhum dos credores recebe.
A situação oferece risco para as negociações brasileiras com a Argentina, uma vez que geraria baixas ainda maiores do que as atuais nas reservas em dólar que o país possui. A questão e que os argentinos importam desde peças automotoras, até sapatos e eletrodomésticos brasileiros, e uma baixa nas reservas em dólar significaria que a Argentina teria dificuldade para pagar por esses produtos.
O menor crescimento econômico nos países também contribui para o menor ritmo do comércio bilateral. O default, dizem especialistas, geraria uma crise cambial e deixaria o país em situação ainda mais complicada para honrar seus compromissos e manter o ritmo de seu comércio bilateral.
Embora a Argentina seja um parceiro comercial importante, o Brasil possui um volume de economia muito grande, com o maior Produto Interno Bruto – PIB da América Latina. Isso significa que a crise no país vizinho não deverá atingir a economia real brasileira, ficando para os argentinos a crise. Além disso, o mercado já sinalizou de maneira positiva para a situação, indicando que não há crise, já que uma parcela do pagamento da dívida foi depositada.
Fica o exemplo para o Brasil. A verdade é que a situação da Argentina é muito parecida com a que o país está vivendo. A economia brasileira já passou por uma fase bastante otimista, com um boom de crescimento e agora caminha lentamente em uma situação de suposta economia estável. Cabe aos brasileiros ficarem atentos, pois a deterioração das contas públicas é evidente e se a rota não for alterada os riscos são enormes.
Fonte: Conexão Itajubá / Panorama FM