Alguns anos atrás, um grupo veio ao meu apartamento fazer a Novena de Natal e, a cada mistério do terço, alguém puxava as jaculatórias. E chegou a vez de um amigo dizer o nome de algum santo de sua devoção. Como não lhe veio nada na memória, falou:
– Santa Lurdinha…
Respondemos sem muita convicção:
– Rogai por nós!
Antes de prosseguirmos a oração, uma senhora perguntou a ele:
– Existe essa santa?
– Sei lá, acho que sim – falou meio envergonhado, provocando muitas risadas.
Como sua intenção não foi brincar ou desprezar a seriedade daquele momento de fé, todos entenderam a infelicidade que o levou a quebrar a corrente de intercessão à Santa Mãe de Deus. Porém, há pessoas que articulam gracinhas para tirar a atenção de quem está rezando.
Quando eu era jovem, sempre convidava um outro amigo para ir à missa e ele desconversava. Num domingo ele concordou e, durante a celebração, puxava conversa a toda hora. No ofertório, quando a sacola de coleta chegou até nós, ele colocou a mão no bolso esquerdo da calça, depois no direito… e começou a procurar nos bolsos da blusa enquanto a pessoa que segurava a sacola continuava esperando. Aquilo foi causando certo constrangimento, até que ele pegou o lenço no bolso de trás e, rindo, começou a limpar o nariz!
Alguns diriam que ‘jovem é assim mesmo’, outros poderiam pensar: ‘é melhor estar na igreja distraído do que pecando na rua’, mas, sem dúvida, o certo é aproveitar ao máximo cada momento de comunicação com Deus. Se já são tão poucos, não podemos desperdiçá-los e jogar as graças fora. Hoje, eu também me divirto contando isso às pessoas, mas não posso concordar com qualquer falta de respeito durante a Eucaristia.
Outro fato parecido aconteceu na década de 70 na igreja de Monte Sião – atual Santuário de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa. Na missa de quinta-feira santa – Santa Ceia –, eu era um dos 12 apóstolos sentados atrás do altar. Meu pai sempre assava e doava um pão grande e redondo para aquela celebração. Quando o alimento começou a passar de mão em mão entre nós, ao invés de ‘um dos apóstolos’ tirar o seu pedaço e entregá-lo ao próximo, começou a comê-lo sozinho!
Como o conhecíamos bem e sabíamos que iria ‘aprontar’ mais cedo ou mais tarde, quase choramos de tanto rir. No dia seguinte, eu soube que, cobertos de razão, muitos criticaram a nossa má conduta naquela hora santa. Portanto, eu também já compactuei com esse tipo de brincadeira indevida quanto estava à frente de Jesus Cristo.
O importante é não continuar com os erros do passado. Atualmente, participo da missa prestando máxima atenção o tempo todo. Não me atraso, não converso, fico atento às palavras do sacerdote, canto, louvo a Deus nas orações, comungo sempre, ajudo naquilo que posso, enfim, aceito os chamados para estar próximo do meu Salvador. E como não cabe a mim julgar algum tipo de conduta pecadora do próximo, naquilo que não posso interferir, rezo e entrego nas mãos de Deus.
Certa vez, fui à Igreja Matriz de São Benedito em Itajubá e, ao meu lado, alguns convidados riam e conversavam em voz alta, tirando a minha concentração. Então, pedi a Nossa Senhora que tomasse conta deles por mim. Imediatamente se afastaram e saíram pela porta ao lado.
Quem já rogou à Mãezinha com fé sabe que a providência da Virgem Maria não tarda. Isso prova que não devemos nos exaltar e xingar os irmãos que ainda não têm a nossa espiritualidade. Tudo se resolve com paciência, perdão, amor e fé – como Jesus e seus pais nos ensinaram. Quem pratica a verdadeira caridade sabe bem como agir em todos os momentos.
Quando rezamos o Pai-nosso, pedimos: ‘Venha a nós o Vosso reino’; na oração do Creio, professamos a fé na comunhão dos santos; na linda e santa recitação da Ave-Maria, o nosso coração se exalta confiante nas palavras: ‘rogai por nós pecadores agora’; portanto, somos muito protegidos e nada devemos temer.
Ninguém é mais ou menos amado por Deus, apenas recebemos o que plantamos – de bom e de ruim. Se estivermos em estado de graça – sem maldades e pecados mortais –, tudo o que acontece contribui para um bem maior.
Ø Paulo R. Labegalini
Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).