As cigarras começaram a cantar.
Ontem mesmo eu ainda estremecia
Com a melancolia do fim do Outono,
Esmagava-me um sentimento de abandono.
E agora a Primavera explode no ar,
Impossível assistir a tudo sem me espantar.
O ciclo da natureza se alterna
E eu me quedo muda em gratidão eterna
Extasiada por ter a honra
De assistir ao assombroso espetáculo da vida.
Só o canto das cigarras já bastava
Mas ainda tem a ternura, as andorinhas, o barulho da água,
O pessegueiro em flor, o amor.
De dia escrevo, lavo a louça, varro o chão.
À noite eu sonho
E nesta vida paralela eu componho
Os versos que ainda moram no meu coração.