Os Jogos Paralímpicos de Paris 2024 terminaram no dia 08 de setembro, e o Brasil obteve a sua melhor campanha na história, conquistando o maior número total de medalhas, 89 (sendo 25 de ouro, 26 de prata e 38 de bronze), superando as 72 de Tóquio 2020 e do Rio 2016. Além disso, bateu o recorde de medalhas de ouro, com 25, contra as 22 conquistadas na Paralímpiadas de Tóquio 2020. Esse resultado rendeu a delegação brasileira a inédita 5ª posição no megaevento, ficando atrás apenas de China, Grã-Bretanha, EUA e Holanda. A delegação brasileira contou com 280 atletas.
“As Paralimpíadas fazem com que a procura pelas escolinhas do Comitê Paralímpico Brasileiro e pelos programas de capacitação aumente consideravelmente – o CPB possui duas iniciativas voltadas justamente à formação de novos atletas: a Escola Paralímpica e os Centros de Referência – Podemos dizer que, nessa época, dobra o número de pessoas com deficiência interessadas em nossas atividades. E, quando alguém com deficiência vê uma pessoa semelhante ganhando medalha, competindo no mais alto nível, entende que há oportunidade para todos” – diz Mizael Conrado, bicampeão paralímpico no futebol de cegos e presidente do CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro).
A fala de Mizael, mostra que o esporte é um dos mais importantes meios de incluir uma PcD, e que se torna, sem dúvida nenhuma, uma grande oportunidade dessas pessoas desenvolverem suas potencialidades, de terem maior visibilidade, respeito e principalmente mostrarem que, independentemente da deficiência, existe um ser humano que pode fazer tudo, desde que tenham oportunidades e que acreditem neles.
Um outro dado que comprova o quanto o esporte pode mudar a vida das PcDs, e que mostra mais uma vez o importante papel do esporte com relação a inclusão social, é sobre a dificuldade que essas pessoas, no Brasil, têm de se colocar no mercado de trabalho, nas escolas, e consequentemente de formar uma renda.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2022, a população com deficiência no país está estimada em 18,6 milhões de pessoas de dois anos ou mais – cerca de 8,9% do total nessa faixa etária. Desses quase 20 milhões de indivíduos, 19,5% não sabem ler ou escrever (para pessoas sem deficiência, o índice é de 4,1%).
Se levado em conta só o grupo com 25 anos ou mais, 63,3% das pessoas com deficiência são consideradas sem instrução ou têm o ensino fundamental incompleto. 11,1% apresentam o fundamental completo ou o médio incompleto. Esses percentuais vão para 29,9% e 12,8%, respectivamente, no contingente sem deficiência da população.
Mas por que atletas com síndrome de Down (T21) não são tão frequentes nos jogos Paralímpicos?
A T21 é uma condição genética causada pela trissomia do cromossomo 21 em todas ou na maioria das células. É uma condição que começa ainda no útero materno quando o feto se forma e tem características próprias, visuais fisicamente. Entre elas estão raiz nasal achatada, baixa estatura, flacidez muscular e olhos com linha ascendente. A condição desta síndrome ainda tem reflexos na parte motora e intelectual.
Depois de muito trabalho e aceitação, as pessoas com a T21 estão sendo incluídas na sociedade, quebrando paradigmas, ganhando espaço na sociedade, com empregos e direitos garantidos.
Porém, no esporte, a T21 ainda não conquistou o seu espaço. Nos Jogos Paralímpicos eles podem competir, mas como exemplo a natação, apenas na categoria S14, para atletas deficientes intelectuais.
O Comitê Paralímpico Internacional (IPC) não considera a síndrome como uma deficiência específica como os deficientes visuais e físicos, apenas a vê como uma condição relacionada a capacidade intelectual.
Por isso, existem os Jogos especialmente para atletas que possuem a T21, o “Trisome Games”, sendo o último realizado na Turquia em março deste 2024. Eles são realizados no mesmo ano dos Jogos Paralímpicos e os próximos serão no México, em março de 2028. A organização cabe a SUDS (União Esportiva para Atletas com síndrome de Down) e no Brasil, quem os representa é a CBDI (Confederação Brasileira de Desportos para Deficientes Intelectuais).
Na última edição, realizada na Turquia, participaram 36 países, nove esportes e teve como um dos destaques, o brasileiro Caique Aimoré, com oito medalhas na natação, sendo quatro de ouro nas provas dos 50m, 100m, 200m nado livre e 50m peito. O Brasil também foi o campeão no Futsal Down, e ainda conquistou ouros no atletismo.
Os esportes presentes foram: Futsal, Atletismo, Basquete, Ginástica artística, Ginástica rítmica, tênis, Tênis de mesa, judô, natação e nado artístico. A primeira edição foi em 2016 na Itália com apenas quatro modalidades.
O Comitê Paralímpico Internacional já recebeu pressão diversas vezes para que haja uma classe própria para os atletas com a T21 em alguns esportes e eles responderam em específico sobre a natação.
“Não existe uma classificação específica na natação para atletas com a T21, assim como não existe uma classe dedicada para pessoas com paralisia cerebral ou amputações nas pernas”, disse o IPC em nota ao jornal australiano ABC News.
O Parlamento Europeu também já fez esta indagação para o Comitê Paralímpico ressaltando que as pessoas com a T21 não têm apenas condições intelectuais, mas também físicas. Porém, nada foi feito em relação a isso.
Em 2022, o Comitê Paralímpico da Espanha pediu ao IPC que fossem criadas categorias para atletas com a T21 já para Paris 2024, só que não obteve resposta. Por enquanto, não há um movimento claro do IPC para que a T21 tenha um espaço próprio no movimento paralímpico.
Mas muito em breve, eu acredito, teremos atletas com a T21 participando também das Paralimpíadas, e começando pelo Futsal Down.
Eduardo Hideo Sato
Pai do Rafael Gomes Sato de 12 anos e que tem a T21
@t21arenapark
Fonte: www.cpb.org.br // www.ge.globo.com // www.surtoolimpico.com.br