Outro dia, sentado no mesmo banco e ouvindo o coral ensaiar, escutei o maestro dizendo: ‘Precisamos de uma pessoa para ser a voz principal nos cantos. Quem quer assumir essa responsabilidade?’. E novamente Deus me falou: ‘Filho, essa é com você’. Eu discordei: ‘Senhor, cantar diante de uma multidão é coisa que não posso fazer! Mas há o Jonas que poderá realizar isso muito bem. É melhor eu ficar ouvindo as músicas aqui sentado no banco’.
No mês seguinte, quando voltei à igreja, uma senhora anunciou no microfone: ‘Preciso de uma pessoa para atuar como anfitrião na entrada. Quem aceita essa tarefa?’. E Deus completou no meu ouvido: ‘Filho, isso é algo que você pode fazer!’. Pensei por um momento e argumentei: ‘Mas, Senhor, ficar falando com estranhos é coisa que não me dá prazer. O Mário é que sabe dar boas-vindas às pessoas como ninguém! Ele não é retraído como eu, que posso continuar cumprimentando a todos aqui do banco’.
Os anos se passaram até que numa noite eu fechei os olhos e sonhei que estava na praia perto do Céu. Éramos quatro caminhando para a eternidade: Carlos, Jonas, Mário e eu. Deus nos disse: ‘Eu preciso de três de vocês para um trabalho no Paraíso’. Imediatamente me apresentei: ‘Senhor, não há nada que eu não faria para lhe servir. Pode contar comigo’. Ele respondeu: ‘Obrigado, meu filho, mas não há bancos no Céu’.
Acordei assustado e comecei a rezar. Pedi à Virgem Maria que me ajudasse a quebrar as barreiras que me impediam de participar ativamente numa comunidade católica, e logo veio a resposta. Um anjo apareceu e conversamos sobre o assunto. Ele começou perguntando:
– Quantos animais você tem em casa?
– Dois: um gato e um cachorro.
– Quando você chega de carro, qual deles o recebe com mais entusiasmo?
– É claro que é o cachorro! Ele vem correndo no portão e apronta o maior barulho, além de pular em mim e continua latindo até lhe dar um pouco de atenção.
– E o gato, o que faz nessa hora?
– Ele fica na dele e não solta um miado sequer. Às vezes eu nem percebo que está na sala! Só depois de algum tempo é que se aproxima e passa o rabo em mim.
– Isso muda de vez em quando ou é sempre assim?
– Nunca muda. Todos os dias é a mesma coisa porque é o instinto deles!
– Ah, falando em instinto, e vocês seres humanos, se parecem mais com gatos ou cachorros?
– Bem, depende. Quando algo nos interessa, também falamos alto e chamamos a atenção de todo mundo; mas se não estamos interessados, nos comportamos como gatinhos mimados.
– Você, por exemplo, é um ‘gato’ ou um ‘cachorro’ para servir a Deus?
– Eu nunca pensei nisso, mas, me desculpe, eu não vejo comparação nesse tipo de coisa.
– Pense, então, quando você vai à missa e vê pessoas acolhendo aqueles que chegam. Eles ficam na deles ou vão de encontro aos fiéis?
– É, concordo que agem meio como ‘cachorros’ neste caso.
– E os agentes do grupo de canto, ficam quietinhos ou colocam os dons a serviço com alegria e bocas no microfone?
– Mostram uma alegria parecida com o meu cachorro, com certeza!
– E você, já agiu assim alguma vez na comunidade?
– Olha, seu anjo, pra ser sincero, eu sempre fiquei na minha, nunca fiz festa com ninguém e nem me ofereci para estar junto com os grupos que trabalham. Devo concordar que sou mais parecido com o meu gatinho realmente.
– Sorte sua que a vida continua lhe dando oportunidades de consertar os erros do passado, mas saiba que isso só aconteceu porque você rezou pedindo ajuda e não há nada que Nossa Senhora não atenda. Portanto, seja um ‘bom cachorro’ ao se aproximar das pessoas e um ‘feliz gatinho’ quando já tiver feito a sua parte.
– Puxa, que lição maravilhosa! Devo começar agora?
– Sim, se ofereça para ajudar numa Pastoral e aguarde outros chamados aparecerem. Faça tudo com oração, obediência, amor no coração, e não se arrependerá.
– Agradeça à Mãezinha por mim. Eu sempre a respeitei como Mãe de Deus e Mãe de todos nós, cristãos.
– Você mesmo pode agradecê-la, rezando o terço diariamente. Ela tem pedido isso aos seus filhos e poucos a atendem.
– Posso rezar deitado no banco aqui de casa?
Nota: Estas histórias foram inspiradas nas pregações de dois queridos irmãos cursilhistas – ‘cachorros bem ferozes’!