Um cidadão andava pelo mundo pregando a paz e, certa noite, um anjo lhe apareceu trazendo esta mensagem:
– Você tem se esforçado muito para ajudar o próximo, portanto, irei lhe conceder um desejo que contribua com sua missão. Peça o que quiser.
Feliz com a possibilidade de conseguir grande ajuda, o homem pegou um mapa e foi falando:
– Veja, marquei os países em conflitos. Gostaria que não mais guerreassem e se respeitassem para sempre.
– Olha – disse o anjo com o mapa nas mãos -, esse pedido é muito difícil de conceder. Meus poderes são limitados e, considerando que algumas desavenças existem há milhares de anos, é melhor não interferirmos. Guarde este mapa e peça outra coisa mais fácil.
– Já sei: quero paz nas famílias! Para isso, desejo que as mulheres sejam mais compreensivas com seus maridos, não reclamem tanto de coisas fora do lugar nem se chateiem quando eles beberem umas cervejinhas a mais. Também quero que parem de ter ciúmes dos pobres coitados e permitam que saiam com os amigos quando quiserem.
Então, o anjo pensou, pensou, e disse:
– Devolva-me o mapa e vamos tentar viabilizar o primeiro pedido, que é mais fácil.
Brincadeiras à parte, passei a comentar o tema escolhido: ‘Tudo posso naquele que me fortalece’. À primeira vista, esta frase de São Paulo na Carta aos Filipenses pode nos levar a interpretações equivocadas. Dividindo a frase em duas – tudo posso / naquele que me fortalece -, a segunda parte não deixa dúvidas: fortaleço-me por Cristo, com Cristo e em Cristo; mas, como explicar que ‘eu tudo posso’?
Imaginemos primeiro que alguns ensinamentos dos Evangelhos fossem ditos em nossa época, durante um passeio de Jesus e Maria pela Terra. Caminhando, viram duas pessoas chorando pela morte de um parente próximo. Jesus lhes disse:
– Bem-aventurados vós que agora chorais, porque vos alegrareis! (Lc 6,21). Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa, com ele cearei e ele comigo (Ap 3,20).
Percebendo o casal meio desconfiado, Nossa Senhora falou:
– Fazei tudo o que ele vos disser (Jo 2,5).
Aceitando o conselho, perguntaram a Jesus o que gostaria que fizessem, e o Senhor completou:
– Vinde a mim vós todos que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei (Mt 11,28).
Confiantes, imediatamente foram curados da tristeza e um deles respondeu:
– Tudo posso naquele que me fortalece (Fp 4,13).
Com sabedoria materna, a Virgem Maria falou:
– Sim, tudo podeis, mas cuidado! Por meio de meu Filho, muitas necessidades pessoais são satisfeitas na busca da paz que desejais. Contando com a graça divina, podereis enfrentar muitas situações adversas, mas não pensais em grandes realizações. A comunhão com Jesus deve ser a maior conquista na vida de vós, sempre! Assim, fiéis a Ele, sereis fortes o suficiente para lidar com o mal.
E, neste contexto, eu expliquei que existe um perigo na interpretação subjetiva deste versículo: ‘tudo posso naquele que me fortalece’. Se não exercitarmos diariamente a fé e anunciarmos isto às pessoas, podemos nos frustrar. Nem sempre somos bem sucedidos em nossos negócios, por exemplo, e a culpa não é de Deus. Não devemos concluir que Ele quebrou sua promessa; certamente, também o Pai não queria que Cristo morresse na cruz, mas, por causa do grande amor d’Ele por nós, permitiu. Se nem Deus faz tudo o que pode e quer, quanto mais nós! Contando com a vontade do Senhor, então sim: tudo posso naquele que me fortalece.
As fortes experiências pessoais com Cristo – como na segunda história que contei – aumentam a confiança na graça, mas, mesmo Paulo tendo curado muitos em nome de Jesus (At 28,7-9), não pôde curar seu discípulo amado, Trófimo (II Tm 4,20). Então, dentro dos limites que Deus permite, o ‘tudo’ pode ser considerado – e significa viver alegre em todas as situações, porque Cristo nos fortalece.
Ninguém melhor do que o nosso Criador sabe aquilo que mais precisamos e, principalmente, sabe que normalmente há grande diferença entre o que pensamos que precisamos e o que realmente é a nossa maior necessidade. Se tão pouco fazemos tudo o que Ele nos capacita a fazer, não podemos exigir que nos conceda ‘dons extras’ para nos alegrarmos. É mais sensato nos convencermos que tudo o que Deus faz é bom e, neste caso, ‘tudo’ significa ‘tudo mesmo’!
Nossa vida pode ser um magnificat – semelhante à espiritualidade de Maria. E para não nos tornarmos sentinelas que dormem, precisamos acreditar que tudo podemos Naquele que nos fortalece quando temos atitudes eucarísticas.