Naquela noite, enquanto a esposa servia o jantar, o marido segurou sua mão e disse-lhe:
– Quero o divórcio. Nosso casamento acabou.
Ela ficou muito brava. Jogou longe os talheres e gritou:
– Você resolve isso sozinho? Você não é homem para enfrentar os nossos problemas?
Naquela noite não conversaram mais. Ouvia-se apenas ela chorando, sabendo que o coração dele não pertencia mais a ela. A mulher que ele conviveu pelos últimos dez anos tornou-se uma estranha.
No dia seguinte, após passar a tarde com outra mulher, o marido chegou em casa e encontrou a esposa sentada no sofá, à sua espera. Então, ela apresentou suas condições para o divórcio: não queria nada dele, mas pediu um mês de prazo antes de se separarem. Pediu ainda que, durante os próximos trinta dias, ele a carregasse no colo para fora da casa todas as manhãs, ao sair para trabalhar. Ele estranhou, mas concordou.
Quando a levou no primeiro dia, foi muito estranho. O filho pequeno os aplaudiu, dizendo:
– O papai está carregando a mamãe no colo. Viva!
Suas palavras causaram constrangimento. Ela fechou os olhos e falou baixinho:
– Não conte para o nosso filho sobre o divórcio. Ele tem provas para fazer e precisa de paz.
No segundo dia, foi um pouco mais fácil para os dois. Ela apoiou-se no peito do marido, que sentiu o cheiro do perfume que usava. Então, percebeu que há muito tempo não prestava atenção naquele aroma delicioso. Pensou que aquela mulher havia dedicado uma dezena de anos da vida a ele, sem nunca pensar em outra pessoa.
Nos próximos dias, foi virando rotina e, às vezes, até divertido. Ela havia emagrecido bastante, estava mais serena e bonita. Certa vez, o filho entrou no quarto do casal e disse:
– Pai, está na hora de você carregar a mamãe. Posso ajudar?
No último dia, quando a segurou, por algum motivo ele não conseguia mover as pernas. O menino já tinha ido para a escola e o marido pronunciou estas palavras:
– Eu não percebi o quanto perdemos da nossa intimidade com o tempo. Não quero mais me divorciar. Por favor, me perdoe, posso voltar a fazê-la feliz.
Ela tocou na testa dele e falou:
– Você está com febre? Mas, se quiser falar sério, saiba que nosso casamento ficou chato porque não soubemos valorizar os pequenos detalhes da vida; não foi por falta de amor.
Ele a carregou com muito carinho e foi trabalhar. No caminho de volta para casa, comprou um buquê de rosas e escreveu: ‘Eu te carregarei em meus braços todas as manhãs até que a morte nos separe’.
Nas semanas seguintes ele ficou sabendo que a esposa estava muito doente e vinha se tratando há meses. Muito ocupado com outras mulheres, não houve tempo para se informar da enfermidade da esposa. E mesmo sabendo que morreria, ela quis poupar o filho dos efeitos do divórcio, prolongando a vida a três junto à família que constituiu. Valeu a pena porque, pelo menos aos olhos do filho, o pai era um homem muito carinhoso com a mãe.
Durou pouco tempo a felicidade que voltou a existir naquele lar. Ela se foi e restou a saudade que a grande mãe e a dedicada esposa deixou. Se detalhes importantes ao casamento fossem valorizados, teriam plantado a felicidade com raízes mais profundas desde o início.
E foi pensando mais ou menos isto que escrevi o romance ‘O Mendigo e o Padeiro’ – uma história que retrata dois personagens em busca de um modelo de felicidade conjugal. Relato que o amor a Deus e ao próximo deve ser praticado como se fosse um só mandamento, porque é o único sentimento que transforma duas pessoas num único ser. E aconselho a tirarem proveito das crises, conscientizando-se que um será remodelado para o outro e todos para um Reino de Amor.
Dizer que todo casamento precisa de paz, de amor e de fé, não é novidade para qualquer pessoa. Há algum tempo, também tenho dito que não pode faltar o perdão, a verdade e a oração. Agora, porém, no livro, o mendigo e o padeiro descobriram coisas novas. Só lendo para saber mais detalhes da felicidade conjugal.
Ø Paulo R. Labegalini
Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).
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