Compreender este conceito pode lhe ajudar a entender o motivo do preço do arroz estar tão alto hoje nos supermercados. Primeiro vamos compreender o que é uma commodity. São produtos padronizados, comercializados internacionalmente em larga escala. São exemplos de commodities, o próprio arroz, o ouro, variedades de petróleo, o milho, a soja, o café, a arroba do boi gordo, frango, minério de ferro, aço etc.
Por serem produtos comercializados internacionalmente, o preço destes produtos costuma ser definido pelos valores transacionados em grandes mercados (bolsas de valores e futuros).
Algumas conclusões já podem ser tiradas com estas informações que você já tem. A primeira dela é que existe compradores e vendedores destes produtos no mundo todo, ou seja, existem grandes volumes de transações ocorrendo no mundo em torno destes produtos. Portanto, é muito difícil um único vendedor ou comprador ser capaz de controlar o preço do comercio mundial. A oferta e a demanda são definidas em escalas globais em valores imensos de transações. Ou seja, no mundo são produtos sujeitos a imensas forças do mercado internacional.
Se são produtos transacionados internacionalmente a moeda que pauta as transações costuma ser o dólar. O preço, nestes mercados geralmente mantem certa paridade na maioria das bolsas, quando falamos das cotações medidas em dólares.
Então o que pode afetar o preço destes produtos? Grandes variações na oferta ou na demanda capazes de afetar o mercado internacional. Com certeza não é o dono do supermercado do seu bairro ou da sua cidade quem define o preço destes produtos no mercado internacional.
Associação de países com imensas produções de petróleo, um excesso de demanda de países como China, EUA e Índia podem em casos extremos afetarem o preço no mercado internacional. Estamos falando de quantias realmente grandes.
Quando convertemos o preço definido nos mercados internacionais em dólar para a moeda local do país podemos verificar também variações em preços medidos na moeda local devido à variação cambial. Por exemplo, se o real desvaloriza frente ao dólar o preço em reais de uma determinada commodity sobe devido ao dólar agora mais caro. Já falamos sobre esta questão no painel de educação financeira de 18 de maio de 2018. No entanto, vamos retomar esta questão por sua importância.
Para muitos é compreensível que se o dólar está mais caro o preço de produtos importados devem subir. Por exemplo, se alguém pretende comprar um produto que custa 100 dólares com uma cotação de R$ 3,90 o valor do produto será de R$ 390,00 agora com a cotação a R$ 5,50 o preço deste produto passa a ser de R$ 550,00. O produto pode ser um bem de consumo final ou o insumo para a produção de algum outro produto. Caso seja utilizado na produção de outro bem dentro do Brasil os custos subirão e poderão ser repassados ao consumidor do produto final.
Mas o que não é óbvio para uma parcela expressiva da população é porque o preço de alguns produtos que não dependem de insumos importados e são produzidos dentro do Brasil e as vezes até exportados também aumentam de preço com a alta do dólar. Este efeito irá ocorrer em maior ou menor magnitude em todo o produto que seja comercializado no mercado internacional. Mesmo que o Brasil seja o exportador o preço de um produto poder subir no mercado interno quando o dólar aumenta.
Para entender como este efeito ocorre vamos tomar como exemplo o mercado internacional de carne de frango. O quilo desta carne é comercializado pelos produtores a cerca de US$ 1,00 (um dólar) no mercado internacional. Ou seja, se um produtor brasileiro vender um quilo do seu frango para um revendedor americano, russo ou de qualquer outra nacionalidade receberá em média US$ 1,00 (um dólar). Com este dinheiro em mãos trocará por reais para pagar seus custos e extrair seu lucro. No começo do ano o produtor do frango trocaria US$ 1,00 por R$ 4,10, mas atualmente trocará o mesmo US$ 1,00 por R$ 5,40. Ou seja, para este produtor ficou mais vantajoso exportar o seu frango. Só será interessante para ele vender o produto no mercado interno por um valor mais alto, do que R$ 5,40 por kg. Mesmo o Brasil produzindo todo o frango consumido internamente e ainda exportando o produto, caso o dólar suba de valor em relação ao real o preço do frango internamente também irá subir. Afinal, o valor recebido no mercado internacional quando convertido em reais será maior, só justificando assim a venda no mercado interno a um preço também maior em reais. Eventualmente o produtor brasileiro pode até ofertar o produto no mercado internacional a um preço menor em dólares para aumentar suas vendas. O preço final de equilíbrio em reais se dará entre o valor antes da valorização do dólar e após a valorização do dólar a depender de cada mercado, mas nunca a um preço menor.
O que vale para o frango do exemplo acima, vale para todas as commodities, inclusive o arroz. E notem! O dólar valorizou 32% em relação ao real entre janeiro de 2020 e agosto deste mesmo ano! O que é de se esperar que aconteça com o preço das commodities?
Além da valorização do dólar, efeito recente de forte retomada da economia asiática, com destaque para a China fez com que a demanda por commodities aumentasse de forma expressiva. Estamos falando do maior país em termos de população e economia!
Após rígidos momentos de quarentena, onde a produção e importação local chinesa ficaram paradas, os estoques de commodities se reduziram. Principalmente quando falamos de alimentos!
Um movimento de planejamento de aumento de estoque de alimentos por questões de precaução para novos momentos de risco sanitário, econômico ou social também está em andamento na China. Reforçando mais ainda a demanda. Tal movimento está pressionando os preços nos mercados internacionais, mesmo com a cotação em dólares.
Portanto você agora é capaz de entender o que está deixando o arroz tão caro. São basicamente três fatores. Real desvalorizado em relação ao dólar, recomposição de estoques da China e ampliação de estoque da China.
Prof. Dr. André Luiz Medeiros
Prof. Dr. Moisés Diniz Vassallo
Prof. Dr. Victor Eduardo de Mello Valerio
DENARIUS – Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira
Instituto de Engenharia de Produção e Gestão (IEPG)
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).
O painel de educação financeira é uma parceria do programa Conexão Itajubá com o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira (DENARIUS UNIFEI).
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