Pensando sem muito propósito (como me é costume), cheguei a uma conclusão sobre os carros aqui no Brasil. Estão piores. Não só se levarmos em consideração os modelos vendidos fora do país (ai fica óbvio demais), mas em relação ao modelo anterior.
Para saber se isso era mais uma dessas “tendências”, ou se eu é que estou ficando muito chato com relação à situação da indústria automobilística nacional, resolvi perguntar a um amigo sobre outra indústria: a da informática. Perguntei a ele se por acaso algum componente de computador teria ficado pior por questões de custo, gasto de energia, espaço, etc. A resposta foi um já esperado “Claro que não!”, e mais, me disse ainda que se a próxima geração de computadores não regredir, mas ficar pelo menos no mesmo patamar, ele já não compraria.
A industria da informática segue a mesma filosofia da F1: Cada passo, um passo à frente. Ora, mas isso é óbvio! Certo? O texto se encarregará de provar que não.
Vamos aos exemplos antes de continuar a critica.
Tempra – Marea: Houve redução na capacidade de carga, além da ausência dos comandos elétricos para ajuste dos bancos. Apesar de o Marea ter mecânica (principalmente o motor) mais evoluída.
Fiat : A adoção dos motores GM em detrimento dos motores Fiat foi com certeza um passo (enorme) na contramão, afinal, basta comparar as potências. Com a mesma cilindrada (1,8 litros) o motor Fiat desenvolve 132cv enquanto o GM, começou com 103, mas esta atualmente em 112 (117 se usado álcool).
A própria Fiat e VW ao colocar o estepe na dianteira da Uno e do Gol, conseguiram um considerável aumento no espaço do porta malas, e hoje, só a Fiat mantém essa solução, entretanto, ela mesma não a levou adiante.
Vectra – novo Vectra: Apesar de continuar um carro realmente bonito (ainda prefiro a geração lançada em 96), é o meu campeão em termos de retrocesso. Sem levar em conta a constante retirada de itens durante sua vida, como por exemplo os amortecedores no capô. Conseguiu regredir em quase (quase porque deve ter melhorado em algo que não vi) todos os itens que dizem respeito a sua construção. O motor, agora somente com opções de 2 litros, oito válvulas e apáticos 121cv, ou ainda na versão de motor 2,4 litros e decepcionantes 150cv (pior potência entre todos os motores 2.4 vendidos aqui) não constituem propriamente uma involução, entretanto estão muito aquém do que sabemos que a GM é capaz, haja visto os 105cv do motor 1.4 do Corsa.
A respeito da suspensão por exemplo o novo Vectra usa na traseira o sistema de eixo de torsão em detrimento do excelente multilink de seu antecessor, obrigando o carro a utilizar uma suspensão mais rígida (e portanto desconfortável) em relação aos rivais de mercado como o Honda Accord para manter o mesmo nível de aderencia. Nem mesmo a aerodinâmica manteve-se no mesmo padrão do Vectra antigo, tendo o coeficiente de arrasto (Cx) aumentado de 0,28 para 0,30, o que talvez explique o aumento no consumo do novo carro (mesmo o de 2 litros ante o antigo 2.2).
VW : Vale lembrar o inexplicável fim da produção do brilhante cabeçote de 16 válvulas para os motores de dois litros (conseguia 145cv do motor 2.0). Fazia o Gol GTi ter desempenho comparável ao Civic Si, Stilo Abarth, ou o Golf GTi (Creio que teve a produção interrompida por fazer este ultimo passar vergonha, talvez).
Citröen : O que dizer então à Citröen, cuja suspensão hidractiva foi um marco, já em 1965, e no começo da década, havia por aqui o Xantia Activa, que conseguia aderência de superesportivo em um carro de família, e hoje, o esportivo da marca, o C4 VTR não a possui deixando a sensação (e fato) que poderia ser, melhor do que é.
Como explicar isso? Por quê? Redução de custos. É perfeitamente lógico e fácil de entender: As empresas pagam uma pessoa (que geralmente não liga muito para carros, caso contrario não teria de escrever isto) ou um grupo de pessoas para reduzir os gastos da empresa. Com isso a empresa consegue lucrar mais afinal de contas ela gasta menos para produzir. Não que eu não concorde com a política de corte de gastos, sou contra a piora do produto em favor dos lucros da empresa, mesmo porque o carro não ficou mais barato depois da piora.
Não adianta ainda também alguém defender as fabricas dizendo que colocar essa ou aquela peça no carro iria custar caro demais, ou que fazer ele deste ou daquele jeito implicaria em custos elevados ou projetos demorados. Mas se antes era barato colocar essas peças, ou era viável fazer aquele projeto, então por que não é mais? O carro não ficou mais barato (não que eu me lembre). Justificativa que a manutenção do carro era mais cara por causa de algum componente também não é motivo. Então só existe uma resposta lógica: Incompetência.
Claro, pois barato o suficiente para entrar em produção é, afinal, se foi produzido antes, pode ser produzido agora. Custo de manutenção é desculpa para quem não conseguiu fazer bem feito, e tomou a solução mais preguiçosa: desistiu. E desculpas de projeto são piores ainda, é a confissão de que os engenheiros de outros países são melhores que os daqui afinal de contas, lá eles conseguem projetar e produzir, e no caso de países mais ricos, com mão de obra mais cara do que a nossa.
Ora bolas, mas o que eu estou fazendo aqui? Como estudante de engenharia, e amante dos carros não posso aceitar isso, se é para piorar, melhor acabar com o setor de engenharia das fabricas e manter a produção sem alteração. Isso também reduz os custos, ouviram fabricas?