Há poucos dias passei um fim de semana em Botucatu (ESP), cidade onde fiz a minha formação médica.
Depois de formada, voltei lá algumas poucas vezes.
De uma delas, há 4 ou 5 anos, em que fui fazer uma palestra sobre Cuidados Paliativos, voltei muito melancólica.
Tanto tempo se passara que eu não reconheci nada na cidade. Dois lugares, apenas: a Catedral e o Cine Paratodos. Só.
Na própria Faculdade, eu me senti o tempo todo uma estranha. Uma parte muito pequena dela era minha conhecida e guardava lembranças. A maior parte sequer me recebia com amor.
Que sensação terrível, essa.
Um lugar que já foi muito seu, que você ama intensamente, um local que guarda as suas mais íntimas e felizes memórias, e um dia se torna desconhecido.
Que quem quiser me chame de exagerada, mas eu sinto uma dor profunda quando algo que amei muito se torna estranho. Isso vale pra gente também.
Voltei lá há poucos dias.
Fazemos este ano, minha turma de Medicina e eu, 50 anos de formados.
Voltei para o Jubileu de Ouro.
Minha emoção, até agora, passados já alguns dias, é imensa.
Vinte e nove colegas já desaparecidos (esse é um recorde que não agrada a ninguém: a turma que sofreu mais perdas de colegas até hoje).
Nós, os remanescentes, já passados os anos em que éramos jovens, somos todos mais silenciosos, mais introspectivos nesses momentos.
Eu fico o tempo todo à beira das lágrimas. Qualquer palavra me desperta emoção.
Às vezes me afasto um pouco das conversas e fico olhando a todos: ali está uma parte muito importante da minha vida. Cada uma daquelas pessoas, não sei se elas sabem, são fundamentais para que se formasse essa pessoa que eu sou hoje.
È possível que eu tenha deixado marcas também. Espero que boas.
Estou imersa em sentimentos, como num vendaval. Mas é bom. Isso é vida!
Graça Mota Figueiredo
Professora Adjunta de Tanatologia e Cuidados Paliativos
Faculdade de Medicina de Itajubá – MG