Só podia ter nascido no Oriente! No Japão, mais precisamente.
Aqui nós só valorizamos o que é novo, jovem, sem marcas do tempo. Aqui vivemos a tirania das formas perfeitas a qualquer custo, mesmo que custem a saúde e a paz.
No Japão, quando se quebra uma peça valiosa e com história na família que a possui, as rachaduras são preenchidas com uma cola de laca que contém prata, platina ou ouro na composição.
Não há nenhuma intenção de esconder o fato de que a peça se quebrou.
Pelo contrário: a “solda” é propositadamente visível e se destaca em meio à delicadeza da porcelana.
A peça fica, segundo eles, ainda mais bonita do que quando inteira, valorizada pela história que conta: um dia ela se quebrou, como acontece com tudo que vive. Não foi desprezada por isso, não teve a sua missão de servir a um dado propósito finalizada; foi reconstituída com o que há de mais precioso na natureza e se tornou ainda mais valiosa.
Não canso de me encantar com as figuras que vejo na internet quando digito “kintsugi”.
Vejam por vocês mesmos, leitores: como a maioria das peças hoje em dia não é mais artesanal, todas são lindas, mas idênticas no formato, no tamanho, na cor. Nenhuma se destaca como única.
Quando se quebram, entretanto, passam a ser diferentes de todas as outras. Apenas quando não são mais novas e perfeitas é que passam a ser únicas.
O ouro expõe as rachaduras e produz valiosíssimas cicatrizes, orgulhosas, expondo-se ao olhar e à admiração de quem tem sensibilidade para ver a história de cada vida.
Não há dois objetos que se quebrem e se restaurem da mesma fora ou com o mesmo desenho. Cada velho objeto é único e pessoal…