A comida saborosa acompanhada de um pouco de vinho nos fez alegres e fez suscitar lembranças de copas antigas. Não adianta. Quem é mais velho sempre vai se lembrar do passado. Acabou que nos divertimos muito com essas lembranças. Os de minha geração e os mais velhos certamente nunca irão se esquecer da emoção da Copa de 70. Éramos jovens e aquela Copa nos marcaria para sempre.
Na Luiz Viana, todas as famílias já estavam a postos em todo início de jogo. Todas as janelas e portas abertas, televisão no último volume e nós lá torcendo, sofrendo e chorando de alegria e emoção. Em 70 tínhamos ainda a primeira televisão que meu pai comprou em 63, em Pedralva quando pudemos assistir a Ieda Vargas, lindaaa, ser coroada como a primeira brasileira Miss Universo e depois a morte do Kennedy. O mundo chegava até nossa casa e eu já era apaixonada por qualquer um dos filhos do viúvo Ben Cartwright do seriado Bonanza.
Vamos à Copa. Não me lembro se fizemos bandeirinhas para enfeitar a rua, até então não havia este costume. Lembro-me sim de que na Copa de 70, numa manhã que antecedia a um dos jogos, minhas primas passaram pela rua com enfeites tipo fitinha verde e amarela nos cabelos e botões com a bandeira do Brasil na gola do vestido, novidades trazidas pelo irmão mais velho que já trabalhava fora. Ficamos chupando o dedo.
A cada gol, todas as famílias da Luiz Viana, bem como as de todo o Brasil, saíam gritando pela rua e nos abraçávamos chorando, porém logo tínhamos que voltar para não perder nada do jogo. Depois de um desses gols memoráveis, o seu Zezinho saiu gritando de sua varanda já com o foguete na mão quando caiu de ponta cabeça nos degraus que davam para rua. Ralou um pouco a cara e os cotovelos, mas rindo que dava gosto. Ficávamos histéricos! Que pena que não temos fotos da nossa festa naqueles loucos dias da Copa de 70. A foto que ilustra este texto é de 86, num momento de alegria e expectativa que acabou em decepção. A Argentina levou a melhor e Maradona foi reverenciado como um deus pela sua genialidade.
Jamais nos esqueceremos do time de ouro de 70, um dos melhores times de futebol de todos os tempos: Félix, Carlos Alberto, Brito, Piaza, Everaldo, Clodoaldo, Gerson, Jair, Pelé, Tostão e Rivelino. Como esta turma nos fez mais felizes! Não eram astros, eram jogadores na raça, sem os privilégios de hoje, sem penteados extravagantes nem ternos chiquérrimos e caríssimos. Como diz minha irmã, muito dinheiro ou dinheiro de menos sempre dá problema.
Éramos jovens vivendo num mundo mágico, totalmente diferente dos tempos apocalípticos de agora. Como já li num desses textos que compartilham pelo Face e Whatsapp, não tínhamos cinto de segurança, pegávamos carona na carroceria de caminhão pra ir nadar no rio, chegávamos tarde para dormir. Nossas mães nem ficavam tão preocupadas assim. Acho que naquela época os anjos ainda não tinham desertado da terra. Tragédias aconteciam, mas não havia este grau de maldade que hoje impera.
Meu marido me contou que ele assistiu aos jogos na rua em Belo Horizonte nas televisões de lojas que transmitiam as partidas. Depois pegava o ônibus para ir para casa. Ele ainda não tinha televisão nesta época. Saudades da Copa de 70! Parece até ficção. Os tempos eram difíceis, mas em nosso dia a dia éramos felizes por tudo e por nada! Oscar Wilde dizia: “o único encanto do passado está justamente em ser passado.”