Lendo um livro muito bonito, “Maria Milza, milagres e mistérios no Sertão da Bahia”, li em determinada passagem, que o autor, o Pe. Gabriel Vila Verde, foi entrevistar um padre da época de Maria Milza para extrair seu depoimento sobre os milagres. O autor relata assim: “A voz grossa e a linguagem de estilo retórico deixava transparecer a sabedoria daquele sacerdote de 97 anos que chegava de uma sessão de fisioterapia”. 97 anos! Com dores no corpo, mas com bom humor e muita lucidez!
Ignoramos o que vamos viver, seja daqui a dez ou vinte anos, ou mesmo hoje. Não sabemos o que nos é reservado, porém sabemos que há pessoas que alcançam a longevidade com relativa ou até mesmo com muita qualidade de vida. Evidente que isso de viver muito e bem depende de vários fatores como genética, uma vida ao ar livre, exercícios, cuidados com alimentação, e tal e tal. Ainda que nossa vida em tempos atuais esteja ameaçada por pandemias e vacinas perigosas, para alcançar a longevidade, um fator é preponderante: bom humor ou senso de humor, salvo exceções.
Agora relato um fato que aconteceu comigo. Há muitos anos, quantos? Bem, pelo menos quinze anos. Estava eu em certa Clínica Médica. Éramos três mulheres a conversar animadamente, o que é o melhor a fazer quando o médico demora. Eu na época, por volta de cinquenta e poucos, uma senhora já mais velha, mas não velhíssima, e uma jovem mãe com uma garota extremamente esperta e inquieta. E conversa vai, conversa vem, a secretária, inoportunamente, pediu à senhora mais velha que confirmasse sua idade. E ela falou: tenho noventa e cinco anos! E nós: o quê? Noventa e cinco? A senhora não aparenta nunca, eu arriscaria dizer que ela aparentava setenta e alguma coisa, e olhe lá. Pois era de Brasópolis e tinha vindo à Itajubá de ônibus, sozinha, para sua consulta. Veio a pé da Rodoviária. Mulher simpática, agradável, risonha. Ainda disse que cantava no coral e usava um saltinho.
Não estou animando ninguém a viver até mais de cem anos. Ninguém sabe, ninguém viu nem verá o futuro. Estou apenas relatando os fatos. Eu sei que vocês podem pensar assim: ah mas eu não quero viver muito não, Deus me livre, ainda mais agora nestes tempos caóticos e perigosos. É verdade, tudo bem, só que, acredite, há um abismo imenso entre o que queremos e o que nos há de acontecer. Assim, se for o caso de que vivam muuuitos anos, tipo mais de noventa e cinco, é melhor treinar o senso de humor e a paciência. Estou falando para vocês e muito mais para mim que sou a rainha da impaciência.
Fazendo um paralelo com o que Santa Teresa falava sobre a vontade de Deus, eu digo que “é melhor fazer da necessidade uma virtude porque a vontade de Deus há de se cumprir, quer queiramos ou não”. O que eu quero dizer é que, se por um acaso, algum de nós chegar à essa idade avançada, quer queiramos ou não, também façamos da necessidade uma virtude.
“Pobrete, mas alegrete”, como dizia Hebe Camargo quando contou sobre sua mãe que era mulher fantástica, otimista e alegre. Então, se chegarmos lá, que seja com bom humor, que seja com leveza de espírito, que ao menos a gente tenha feito da vida uma obra de arte, nenhum Picasso ou Verdi. Não precisa. Cada vida é uma Obra de Arte. A nós cabe apenas retocar algumas pinceladas aqui ou ali.