Uma das maiores falhas da formação do profissional de saúde hoje em dia é fazê-los desconhecer a morte. Ensina-se exaustivamente a ele, em especial ao médico, a salvar vidas heroicamente; da morte nada se diz, nela não se fala.
Não é de se estranhar que o médico ande tão distante do sofrimento dos doentes; afinal, ele foi ensinado que a morte é uma derrota do seu saber e do seu esforço de cura!
Há algumas aulas atrás, entretanto, um grupo dos meus alunos da FMIt escreve, num exercício de classe:
“A morte sempre despertou uma ampla variedade de emoções e, na maioria das vezes, é vista como uma desgraça. Sua negação é um processo natural, mas é reforçado por alguns sistemas culturais. No mundo ocidental, a morte invade nossas vidas de forma violenta através dos noticiários e silenciosamente no cotidiano das pessoas que tem o oficio de cuidar, os profissionais de saúde.
Até pouco tempo, o processo de doença e morte ocorria nas casas. Mas o hospital se tornou o local onde isso acontece de forma coletiva. Com efeito, os profissionais de saúde lidam diretamente com essa questão, porém muitos não foram preparados para enfrentar essa realidade. Muitos usam a dessensibilização como defesa, pois sua formação profissional foi centrada na objetividade, em detrimento dos aspectos emocionais do paciente. A negação da morte parece ser uma característica dos médicos, e muitos apresentam muita dificuldade em falar do agravamento da doença e da possibilidade da morte com o paciente. Muitos desses profissionais não tiveram um modelo educacional baseado na humanização e no entendimento da morte. Além disso, eles não equacionaram os seus próprios problemas, as suas próprias dificuldades diante da morte.
Na maioria das vezes, a morte não parece ser o maior problema para o doente, porém o medo do desamparo e da solidão é o que os acomete. Dessa forma, um diagnóstico terminal é comunicado, mas o doente e a família não são assistidos e os limites do paciente não são respeitados.
Nesse cenário, surge a prática dos Cuidados Paliativos que encaram a morte como um processo natural e consideram que o sofrimento humano deve ser amparado.
É necessário que os profissionais de Saúde encarem seus sentimentos perante a morte pois, para vivenciar os medos de quem está morrendo, é necessário enfrentar a própria finitude. Além disso, há uma necessidade de preencher a lacuna na formação profissional com um olhar mais humanizado e voltado para uma assistência em todas as dimensões da dor, seja ela física ou emocional.”
Esses são os médicos que vão fazer a diferença no futuro, estou certa! E é destes meninos e meninas que terei orgulho quando os vir por aí, pela vida, diminuindo a dor do próximo…