Assisti a um seriado que para dizer a verdade, não gostei. Porém, como mesmo de um mal se pode tirar um bem, teve uma cena que me tocou, que me fez refletir. Foi assim: uma mulher angustiada está na beirinha de um precipício. Ela olha como que atraída pelo vazio do abismo. O marido e a filha correm para segurá-la e a mulher reage com agressividade. Aí chega uma pessoa do grupo e diz a ela: “eu não vou tocar você, vou apenas segurar sua mão. Ficar de mãos dadas é um ato íntimo, mais íntimo do que fazer amor. Dizem que tem uma coisa intuitiva nas mãos dadas, alguma coisa sábia, talvez sejam as terminações nervosas nas pontas dos dedos ou o sistema sensorial das mãos, mas as pessoas sentem e se conhecem sem mesmo nunca se terem visto”. A mulher se acalma e sai daquele penhasco perigoso. Para salvar alguém às vezes basta um pequeno gesto, feito de compaixão e cuidado.
Bem, imediatamente eu me transportei para o relato de minha amiga que me contou certa vez de sua tia velhinha que, no entardecer da vida se comportava como uma frágil menina, fato que eu, que a conheci bem, sabia que ela era uma menina desde sempre. Sua acompanhante dormia na cama ao lado e a tia acordou assustada, com muito medo. A acompanhante tentou acalmá-la, mas ela continuava apavorada. E aí ela própria pediu à acompanhante para ficar de mãos dadas com ela. A moça assim fez e ficaram de mãos dadas até que a senhora adormeceu. Fiquei emocionada.
Como uma cereja traz outra cereja, lembrei de minha mãe que a vida toda não foi mulher de carinho. Só os bebezinhos tinham a honra de ocupar seu colo e serem merecedores de muitos carinhos e das mais variadas gracinhas que só as mães e avós sabem fazer com perfeição, usando aquela linguagem própria: “cadê minininho da vovó? Cadê meu tisoio? “Cadê meu colação? Cadê? Cadê? Cadê?”. Então, assim que os bebês completavam mais ou menos três meses de idade, cessavam aquelas explosões de carinho de minha mãe. Penso que quando as criancinhas começavam a mostrar ares de independência e vida própria, como dar ou não os bracinhos, minha mãe ficava brava. Por que? Ora, porque ela sempre foi aquela que detinha o controle, oh mulher forte! Claro que ela achava graça nas crianças e as amava com loucura, apenas queria uma submissão total dos pequenos.
Enfim, depois que minha mãe ficou demente, eu descobri que ela passou a gostar de ficar de mãos dadas e entrelaçadas comigo, e eu ia lá duas vezes por dia para me apossar da minha cota de carinho e ternura, deficiente de longa data, digamos assim. Ah eu me esbaldava com aquele carinho de todo dia. E ela gostava, como uma menina. E eu outra.
Mãos dadas e entrelaçadas dizem muito, é afeto genuíno que escorre do coração. Não é à toa que quando vamos sair e meu marido põe a mão em meus ombros, eu digo pra ele: Beem, prefiro andar de mãos dadas, é mais gostoso.