https://youtu.be/949jyA6t0sI– Balada de Narayama –Shohei Imamura
Ao visitarmos Jézéquel (http://www.alainjezequel.com/) se percebe que a medicina transformou e perturbou profundamente a saudável e tranquila relação de outros tempos entre o homem e a morte. Diluída nos contos e rituais religiosos, a morte permeava o cotidiano, o que ainda se pode encontrar entre aqueles de nós ainda saudáveis. Com a atenuação da hegemonia religiosa sobre a questão, o efeito tranquilizador sobre a compreensão da morte e do morrer cedeu espaço ao medo e à necessidade de segurança, pressupostos mórbidos para um rentável mercado em franca expansão, dos seguros e da “segurança”.
Defender a vida não é sinônimo de lutar contra a morte
Nas palavras de Jézéquel:
“A posição da ciência médica relativamente à saúde é profundamente ambígua: se o objetivo da medicina é defender a vida, a tentação de passar da luta contra as patologias para a luta contra o fenômeno perturbador – morte – é grande: de fato, dar este passo – pretender decidir entre a vida e a morte – faz do médico um demiurgo e um “apóstolo” da imortalidade. Uma das consequências desta ambição é levar as pessoas que acreditam e praticam este “culto” a uma extrema exigência, a um pedido cada vez maior de infalibilidade, natural, da parte de uma entidade divina. É um pouco isto o que se verifica, hoje em dia com o número crescente de pacientes que, por investirem uma fé ilimitada na tecnologia e nos conhecimentos científicos, sentem-se no direito de pedirem contas cada vez mais altas ao poder médico. Mas, na verdade, rapidamente se descobre que se a encenação do poder é tecnicamente perfeita e se o mágico tem um ar extremamente competente (hospitais, indústria farmacêutica, corpo médico executando rituais bem ensaiados) tudo isto não passa, em boa parte, de uma ilusão que tem, aliás, consequências graves, à vista de todos nós: as esperanças são realmente enormes – “este médico é realmente o melhor e esta clínica fantástica”, mas as decepções não ficam atrás. Não se trata de um problema de competência médica, mas sim de crença coletiva.”
Medo – Matéria Prima para a manipulação
Medicina e Medo da Morte – Entrevista Ricardo Leme
As pressões sentidas pela medicina referentes às noções de lucro, rentabilidade e consumismo, eventualmente comprometem a lei hipocrática de exercício médico: “primum non nocere“. Nos hospitais a figura do médico perde em importância para gravatas e contingências da beleza decaída, osCEOse seus gestores. Não deve surpreender, ao leitor atento, a semelhança destes com o estado decioobservável no reino animal, bem como o estado da gestante a incubar quimera a conhecer. Quimera, pois que geneticamente modificada nos laboratórios de treinamento ao queJogos Vorazesservem de exemplo menor.
Ao escolher a lógica da sociedade midiática, regida pelo efêmero, “fantástico” e espetacular, a medicina e seus órgãos regulamentadores só podem correr atrás do prejuízo ao tentara posterioriregulamentar aquilo que os meios de comunicação já ofereceram aos reflexos condicionados do consumidor. Informações e imagens de doenças amedrontam e inquietam ouvintes, telespectadores e leitores, incapazes de defesa por absoluta alienação ou conhecimento mínimo de causa. Estímulos dessa natureza, em que o medo é o veículo, geram vítimas indefesas e presas fáceis de qualquer alternativa oferecida subsequentemente, especialmente se rápida e prática.
Lembremos apenas que o rápido e prático, grosso modo, age sobreefeitos; agir sobrecausasrequer paciência e eventuais esforços sustentados temporalmente. Assim, é imprescindível agora universalizado oacesso à escolarização, que se universalize aeducação. Sim, pois acesso a algo é distinto e distante do algo em si; existem várias antessalas até a câmara dos reis. Ao que parece,educaçãomesmo só quando sua caçula escolarização ou formatação, pré-requisito mórbido, tiver dominado o pedaço…