Mas aonde quero chegar mesmo é num outro tipo de modernidade: por exemplo, a TV à cabo que me proporciona assistir aos deliciosos filmes e documentários, e a internet que me faz navegar em mares extraordinários nunca dantes navegados, conectando-me com o mundo. Beleza! Mas … isso … quando tudo funciona bem porque quando a coisa emperra, haja paciência porque esta virtude é valiosa justamente porque é difícil e, se tínhamos alguma paciência, ela ficou lá no tempo antigo quando não havia a danada da pressa. Como ficar sem TV e sem internet ao mesmo tempo? Tá bom, eu sei que podemos conversar mais, ler mais e pensar mais, sem culpa de saborear o ócio criativo. Tudo bem, mas chega uma hora em que a gente começa a ficar embirrada com a tela escura da TV e com a mensagem “o servidor não pôde ser encontrado”. Nossa extraordinária navegação virtual acaba em naufrágio e precisamos de quem nos resgate. Aí é quando entra em nossa vida um moderno personagem: o assistente virtual. Não há como retomar o conforto anterior sem ter que conviver com este estranho sujeito.
Ele atende nossa chamada com cordialidade. Sua voz irrompe pelo telefone com entusiasmo e alegria. Impecável no falar, costuma se apresentar pelo nome, algo como “olá! Aqui é o fulano, seu atendente virtual” e nos identifica com perfeição: “já percebi que você tem tal plano com a gente!”. É super paciente, já sabe que não estamos com papel e lápis na mão e diz que espera até que a gente providencie. Repete educadamente o número de protocolo para quem não consegue escrever tudo da primeira vez. Nunca se irrita, o máximo que diz é: “Não entendi, vamos tentar de novo”. Uma graça o moço! Até aí tudo bem, mas depois começa aquele interminável “disque um para isso, disque dois para aquilo e assim vai. Como queremos falar com gente de carne e osso, já discamos o nove. Mas ainda não é tão fácil como pensamos. Os atendentes humanos estão quase sempre ocupados ou nos fazem pensar assim, e temos que ouvir alguma musiquinha durante um tempo até que um deles se digne a nos atender, se a gente não desistir e desligar antes.
Pois bem. Fiquei sem internet há uns dias atrás e não teve outro jeito senão passar pelo martírio do contato com o servidor. Foi mais ou menos uma hora de reconfiguração, “qual luz está acesa? Desliga o modem, espera dez segundos, religa agora”. Quando finalmente cheguei à etapa final, sentindo já uma imensa alegria ao ler o “concluir”, aconteceu o pior: a ligação caiu. Não tenho tanta certeza se caiu mesmo ou se o atendente, também exausto como eu, fez de propósito, para não dizer outra coisa. Recomecei tudo, muito aborrecida, mas resignada, fazer o quê? Tudo pela bendita conexão. Mais um tempo de testes até que o atendente me informou que deveria manter o computador ligado vinte e quatro horas. Detectou que o problema era da Central e enviaria um técnico para o conserto. Eu perguntei: “como vai ser isso? Vem alguém com identificação até minha casa?” Ao que o moço, já irritado, bem diferente do atendente virtual, respondeu: “não senhora, ninguém vai até sua casa”. E eu: “mas de qual central você está falando? De minha cidade? Onde fica a central?” E ele se limitou a repetir: “À central, senhora, À CENTRAL” (essa última central veio pausada e carregada de ira). Paciência. A conexão voltou meio capenga, mas voltou, alívio geral.
No dia seguinte, querendo assistir ao jornal, verifiquei que a TV estava travada, o controle não respondia. Confesso que senti uma pouco de inveja daquela família inglesa vivendo como no século XVIII. Mas tudo passa, os problemas foram todos solucionados. A única coisa pendente é uma pia entupida, coisa normal até dos tempos antigos e nada que eu não tire de letra.