Diz a lenda que, numa noite escura, um homem caminhava desolado pela praia. Pensava assim: ‘Se eu tivesse uma casa bem grande, seria feliz. Se tivesse um excelente trabalho, seria feliz. Se tivesse uma companheira formosa, seria muito feliz!’ Nesse momento, tropeçou numa sacolinha cheia de pedras e passou a jogá-las, uma a uma no mar, a cada vez que dizia com raiva: ‘Seria feliz se tivesse um lindo carro, ou uma bela lancha, ou se pudesse fazer longas viagens…’. Prosseguiu até que a sacolinha ficou com uma só pedrinha e, esta, ele acabou guardando.
Ao chegar em casa, percebeu que aquela pedra era um diamante muito valioso! Pensando nos outros que jogou fora, voltou desesperado até a praia e ficou a noite inteira tentando recuperar o tesouro perdido, mas não conseguiu achar nenhum que atirou no mar. Restou a ele apenas uma pequena parte de tudo que sempre sonhou.
E quantos de nós vivemos jogando fora nossos preciosos tesouros por sonharmos com aquilo que é perfeito e sem dar valor ao que temos perto de nossas mãos? A felicidade está muito próxima de cada um, mas quase sempre é vista apenas no futuro distante.
Se déssemos valor a cada ‘pedrinha’ que conquistamos na caminhada da vida, quantas coisas maravilhosas já teríamos, não? Cada um de nossos dias pode ser considerado um diamante insubstituível e só depende de nós aproveitá-lo ou lançá-lo ao mar do esquecimento para nunca mais recuperá-lo; contudo, sempre é tempo de recomeçar.
Carlos Drummond de Andrade escreveu:
“Não importa onde você parou, em que momento da vida você cansou… O que importa é que sempre é possível e necessário recomeçar. Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo, é renovar as esperanças na vida e, o mais importante, acreditar em você de novo.
Sofreu nesse período? Foi aprendizado… Chorou muito? Foi limpeza da alma… Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las um dia… Sentiu-se só por diversas vezes? É porque fechou a porta até para os anjos… Acreditou que tudo estava perdido? Era o início da sua melhora…
Pois é, agora é hora de reiniciar, de pensar na luz, de encontrar prazer nas coisas simples de novo. Que tal um novo emprego? Uma nova profissão? Um corte de cabelo arrojado, diferente? Um novo curso, ou aquele velho desejo de aprender a pintar, desenhar, dominar o computador ou qualquer outra coisa? Olha quanto desafio, quanta coisa nova nesse mundão de Deus lhe esperando!
Tá se sentindo sozinho? Besteira, tem tanta gente que você afastou com o seu período de isolamento… Tem tanta gente esperando apenas um sorriso seu para chegar perto de você! Quando nos trancamos na tristeza, nem nós mesmos nos suportamos… Ficamos horríveis! O mau humor vai comendo nosso fígado, até a boca fica amarga.
Recomeçar… Hoje é um bom dia para começar novos desafios. Onde você quer chegar? Ir alto? Sonhe alto, queira o melhor do melhor, queira coisas boas na vida. Pensando assim trazemos pra nós aquilo que desejamos. Se pensamos pequeno, coisas pequenas teremos. Já se desejarmos fortemente o melhor e, principalmente, lutarmos pelo melhor, o melhor vai se instalar em nossa vida.
E é hoje o dia da faxina mental… Jogar fora tudo que lhe prende ao passado, ao mundinho das coisas tristes… Fotos, peças de roupa, papel de bala, ingressos de cinema, bilhetes de viagem e toda aquela tranqueira que guardamos. Jogue tudo fora, mas, principalmente, esvazie seu coração, fique pronto para a vida… Porque sou do tamanho daquilo que vejo e não do tamanho da minha altura.”
Bem, criticar Carlos Drummond é coisa séria e eu não ousaria fazê-lo, mas vou interpretar as suas palavras. Quando ele disse ‘sonhe alto e queira o melhor do melhor’, pareceu-me incoerente com a colocação: ‘encontrar prazer nas coisas simples de novo’; mas, pensando melhor, é possível conseguir as duas coisas ao mesmo tempo, sim. Por exemplo, uma oração é um gesto simples de súplica, agradecimento ou entrega, e nos traz tudo aquilo que merecemos de Deus.
E acredito que Drummond também pensou assim, porque demonstrou um pouco de fé no texto. E quantas outras coisas simples ajudam a construir um mundo melhor, como: o amor ao próximo, o perdão, a paciência, a verdade, o respeito à vida, a fidelidade conjugal, o temor a Deus, a humildade no coração, a mansidão da alma, o espírito de paz etc. Querer isso tudo na vida não é sonhar em ter o melhor do melhor?
Voltando à lenda do homem na praia, muito mais útil teria sido ele ter achado uma Bíblia e lido: “Pedi e vos será dado! Procurai e achareis! Batei e a porta vos será aberta! Pois todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra; e a quem bate, a porta será aberta” (Mt 7,7-8). Confiando nestas palavras de salvação, o ambicioso homem não teria perdido o maior Tesouro da Terra, pois O teria guardado no coração.
Sempre digo que a única coisa que ninguém pode nos tirar é a fé que levamos no peito; porém, há quem a perca sozinho, porque não cuida da sua espiritualidade. Aceite este conselho: ‘Mantenha acesa a Luz de Cristo dentro de você e, com certeza, nunca se arrependerá de não a ter trocado por muitos diamantes’.
Ø Paulo R. Labegalini: Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).
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