Esta semana o Brasil e o mundo estão vivendo momentos de agitação, euforia, expectativas e incertezas. As primeiras vacinas em combate à pandemia da Covid-19 começam a ser aplicadas na população.
Em países como Russia, China, Arábia Saudita, Canadá, Estados Unidos e Reino Unido a vacinação já está em andamento, ainda que nos chamados grupos especiais ou de risco. Geralmente os funcionários da área de saúde e idosos com mais de 70 anos.
Mas o que nós administradores e economistas queremos falar sobre vacinas? Nada. Vamos falar sobre investimento e gestão. E o cenário mundial de avanço no combate à Covid-19 tem tudo a ver com gestão, educação financeira e investimentos.
Vamos tomar o caso de dois países emblemáticos, o Reino Unido, país sede da universidade de Oxford e da farmacêutica Astrazeneca e o Brasil, nosso querido país, sede também de boas Universidades, e que têm bons laboratórios especializados em produção de vacinas como o Butantan e a Fiocruz.
No caso do Reino Unido identificamos um cenário de vacinação já iniciada, com cronograma bem estabelecido e quantidade de vacinas pré-adquiridas suficientes para vacinar 4 vezes a sua população. Isso se todas as vacinas nas quais investiram obtiverem sucesso na fase 3 de testes. Uma das vacinas que o país investiu ainda em fase de pesquisa foi a desenvolvida pelas farmacêuticas Pfizer, americana e BioNTech, alemã. Mesmo tendo uma vacina que avançou rapidamente nas primeiras fases, desenvolvida pela universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica Astrazeneca, ambas com sede no Reino Unido, o governo soube dosar sua grande empolgação inicial com um produto nacional que carregaria a bandeira e imagem de sucesso do país, com um conceito básico de educação financeira. Um que está associado a um singelo e popular ditado: nunca coloque todos os seus ovos em uma única cesta.
Sim, todo investidor experiente e que domine minimamente as técnicas de investimento sabe que para minimizar os riscos é necessário diversificar os seus investimentos. Estratégia comum para investidores no mercado de ações e derivativos, é ter estratégias focadas em diversificação e proteção com uso dos chamados hedges e opções.
Quando um investidor aposta todas as suas fichas em um único ativo arriscado, está sujeito a perder tudo com maior facilidade de que se tivesse diversificado entre ativos de mesmo nível de risco, mas que apostam em estratégias diferentes. Se você derrubar a sua única cesta com todos os ovos ficará sem nada. Por isso, reparta os seus ovos em diferentes cestas e se possível, cestas de diferentes tipos, cada uma com uma característica diferente de proteção.
Países que adotaram esta estratégia simples, reconhecida e sensata, investindo recursos na fase de pesquisa de diversas vacinas, acreditando na ciência e tendo em troca a oportunidade de receberem as primeiras doses produzidas se aprovadas nos testes, estão se beneficiando antes e com economia de recursos. Esta é a gestão inteligente dos recursos.
Outro país, com população maior que a brasileira, 330 milhões contra 210 milhões, que fez uma boa gestão dos recursos foi os Estados Unidos, hoje com expectativa de vacinar toda sua população já no final do primeiro semestre de 2021 e com possibilidade de obter vacinas suficientes também para vacinar 4 vezes toda sua população.
Os Estados Unidos já em agosto tinham avaliado diversas vacinas que estavam evoluindo dentro das fases de pesquisa de forma promissora e investiu na pesquisa de 6 vacinas, pagando adiantado por doses que seriam entregues caso as mesmas obtivessem sucesso de aprovação pelas agências reguladoras. Foram investidos US$11,65 bilhões de dólares ou algo como R$ 60 bilhões. As vacinas que já em agosto receberiam recursos do governo federal americano foram: Moderna – US$ 2,5 bilhões, Sanofi e GSK – 2,1 bilhões, Johnson & Johnson – US$ 1,5 bilhão, Oxford-AstraZeneca – US$ 2 bilhões, Pfizer/BioNTech – US$ 1,95 bilhão e Novavax – US$ 1,6 bilhão. Como todos sabemos a da Pfizer já foi aprovada pelas agências reguladoras já começou neste mês de dezembro a ser aplicada em seus cidadãos.
Enquanto isso, no Brasil, o governo federal investiu todas suas fichas na vacina de Oxford-AstraZeneca, tendo gasto até o final de setembro R$ 1,3 bilhões no desenvolvimento desta vacina e previsão de atingir R$ 2 bilhões em dezembro, o que irá garantir ao país 100 milhões de doses, suficiente para vacinar pouco mais de 20% da população. Também está previsto a transferência de tecnologia para que a Fiocruz produza aqui no nosso país doses adicionais. O governo federal também direcionou R$ 2,5 bilhões ao consórcio de 186 países (Covax-facility) liderado pela OMS que investe em diversas vacinas, mas que garante cota de apenas 42 milhões de doses ao Brasil, ou seja, o suficiente para vacinarmos apenas 10% de nossa população.
Movimento antecipado que sinalizou em outubro de 2020 investimentos de pesquisa e aquisição das vacinas desenvolvidas pela Sinovac em parceria com o Instituto Butantan foi rapidamente desautorizado pelo presidente e não avançou. Ou seja, no atual cenário temos poucas alternativas firmes e um lugar no final da fila conquistado em recente contrato com a farmacêutica Pfizer.
Quando o ministro da saúde diz não saber a razão da pressa e ansiedade da população pela vacina ele demonstra não entender de economia, gestão e planejamento. Ou simplesmente estar sendo guiado e obedecendo alguém que não entende nada de gestão. Podemos fazer uma conta simples, para demonstrar essa assertiva. Com a pandemia obrigando as pessoas a se isolarem, a economia desaquecida e o desemprego aumentando o governo se viu impelido a promover diversas medidas de combate à pobreza e insolvência dos brasileiros.
A medida mais conhecida pela polução no combate aos efeitos econômicos adversos associados à pandemia da Covid-19 é o auxílio emergencial que custará ao final cerca de R$ 321 bilhões de reais aos cofres públicos. Somadas outras medidas de auxílio a estados, municípios e empresas em dificuldades durante a pandemia os auxílios somam mais de R$ 600 bilhões.
Um único mês a mais de auxílio emergencial nos moldes da primeira fase com benefícios maiores pode chegar a custar até R$ 50 bilhões. Ou seja, um mês a mais de auxílio emergencial seria o que precisaríamos para termos feito um plano de investimento em vacinas e ciência como o adotado por países como Estados Unidos e Reino Unido e caminharmos com mais celeridade para a solução da pandemia de Covid-19.
Esperamos ter contribuído com a compreensão de que resolver a pandemia com celeridade tem potenciais imensos em termos de economia de recursos públicos e de retomada das atividades e da economia, gerando renda e bem-estar para todos os brasileiros.
O nosso atraso na vacinação contra a Covid-19 é muito mais uma questão de falta de boa gestão, noção básica de investimentos e educação financeira. Valorize estes conhecimentos, afinal os bons investidores terão seus problemas resolvidos com antecedência e sairão ganhando em termos de recuperação econômica e economia de recursos públicos.
Até o nosso próximo encontro!
Prof. Dr. André Luiz Medeiros
Prof. Dr. Moisés Diniz Vassallo
Prof. Dr. Victor de Mello Valério
DENARIUS – Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira
Instituto de Engenharia de Produção e Gestão (IEPG)
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).
O painel de educação financeira é uma parceria do programa Conexão Itajubá com o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira (DENARIUS UNIFEI).
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