No Brasil, o complexo de vira-latas, termo imortalizado por Nelson Rodrigues, ainda sussurra em nossos ouvidos que o que vem de fora é sempre melhor. É uma sombra que paira sobre talentos incríveis, como os que florescem com , por exemplo, na Incubadora de Base Tecnológica de Itajubá (Incit), em Minas Gerais. Lá, jovens cientistas e empreendedores desenvolvem soluções inovadoras, de softwares revolucionários a tecnologias sustentáveis, que poderiam transformar indústrias inteiras. No entanto, essas conquistas raramente ecoam além dos muros da incubadora. Grandes empresas, seduzidas pelo brilho de soluções importadas, ignoram o potencial local, e a população, desconhecedora desses feitos, segue consumindo narrativas de inferioridade. É como se escondêssemos nossas joias mais brilhantes, convencidos de que só o estrangeiro reluz.
Enquanto isso, no gramado do Mundial de Clubes, os times brasileiros têm mostrado que o complexo de vira-latas não tem lugar onde a confiança fala mais alto. Nos últimos anos, clubes como Flamengo e Palmeiras enfrentaram gigantes europeus de igual para igual, com vitórias que ressoam como um grito de autoafirmação. Esses triunfos não são apenas sobre futebol; são metáforas de um Brasil que, quando acredita em si, desafia o mundo. A garra dos jogadores, a estratégia dos técnicos e a paixão da torcida mostram que, com dedicação, o brasileiro pode ser protagonista, não coadjuvante. Mas por que essa confiança não transborda para outros campos, como o da ciência e tecnologia?
O link entre o sucesso nos gramados e as inovações da Incit está na necessidade de mudar nossa lente cultural. Assim como o torcedor vibra com um gol contra um clube europeu, precisamos celebrar e apoiar os cientistas de Itajubá que criam soluções de impacto global. O complexo de vira-latas só será superado quando aprendermos a valorizar o que é nosso, dando visibilidade e investimento aos talentos locais. Se no futebol já mostramos que podemos ser gigantes, é hora de levar esse mesmo espírito para a ciência, a tecnologia e além. O Brasil não é vira-latas; é um país de craques, dentro e fora de campo, esperando o apito final do preconceito para brilhar.
Por Guilherme Pereira Torres