Recentemente a inflação no Brasil atingiu os patamares mais altos dos últimos 7 anos. E sempre quando se discutia as razões da inflação a queda de valor do real frente ao dólar era uma das razões mais comuns para justificar a alta de preços, principalmente quando se referia aos preços das chamadas commodities, por exemplo, petróleo e seus derivados, carnes, minério, minerais e grãos.
No entanto, nesta última semana o valor do dólar frente ao real atingiu um valor que os brasileiros não viam há pelo menos dois anos, na época do início da pandemia do coronavírus. A moeda brasileira foi uma das que mais desvalorizou neste período de pandemia e agora em 2022 tem sido uma das que mais tem se valorizado.
Algumas razões como o bom resultado das contas dos governos no Brasil em 2021 e principalmente o bom desempenho dos preços das commodities que o Brasil exporta ajudam a justificar a valorização do real. No entanto, o fator preponderante é a rentabilidade oferecida pelos títulos da dívida brasileira. Atualmente a taxa Selic que referencia esta rentabilidade está em 11,75% ao ano. Enquanto as economias mais desenvolvidas pagam algo entre 0,25% a 1% ao ano, o Brasil está entre as 8 economias que melhor remuneram a dívida soberana do país. Das economias que pagam melhor que o Brasil o único país com PIB nas proporções do Brasil é a Rússia, mas que por estar envolvida em uma guerra e sobre fortes sansões internacionais não tem atraído o fluxo de capitais internacionais.
Neste sentido, pelo menos no atual momento, o Brasil tem sido uma boa opção para os investidores e tem atraído muito dinheiro para nossa economia. Com a entrada de dólares, seja pelos bons desempenhos das exportações de commodities ou pela compra de títulos da dívida brasileira o real tem se valorizado. Há mais dólares em busca de reais o que fez com que o dólar que esteve próximo do custo de 6 reais voltasse ao patamar de 4,6 reais.
Portanto, é de se esperar que tudo que seja importado e transacionado em dólares tenha seu preço reduzido de forma não desprezível, afinal o dólar perdeu cerca de 25% do seu valor. Tal desconto ainda não está sendo sentido em muitas das commodities, como os derivados do petróleo, grãos e carnes, mas já está sendo sentido nos produtos de importação direta pelo consumidor final, com eletrônicos e computadores em geral.
Mas o mais importante neste momento é compreender que este movimento de valorização do real frente ao dólar tende a não se manter por muito tempo. O banco central americano Fed (Federal Reserve), já sinalizou recorrentes aumentos na taxa básica de juros que podem levá-la a triplicar de valor ainda este ano. Além disto o mesmo Fed já indicou que irá vender grandes quantidades de títulos de dívidas de empresas que comprou durante a crise econômica associada à pandemia do coronavírus.
Desta forma, muito do capital que está investido em títulos da dívida brasileira, pode em breve migrar para títulos do governo americano ou debentures de empresas americanas, diminuindo a oferta de dólares em nosso país e elevando o preço desta moeda frente ao real.
Muitos dos importadores devem já estar de olho neste movimento da moeda americana e provavelmente nem irão alterar os preços dos produtos aos consumidores finais no Brasil de imediato. Estarão no aguardo da movimentação dos recursos para compreender o novo patamar de estabilidade do câmbio entre o real e o dólar.
Portanto, nossa dica de hoje é para não contar com a continuidade da queda do preço do dólar nem com a redução dos preços de produtos cotados nesta moeda. Alguma estabilidade no atual patamar pode ocorrer, mas o movimento de queda está encerrado por enquanto.
Nos vemos em breve para falar mais um pouco de economia.
Até lá!
Por
Prof. Dr. André Luiz Medeiros
Prof. Dr. Moisés Diniz Vassallo
Prof. Dr. Victor Eduardo de Mello Valério