No início de nosso papo, comentando sobre a morosidade do trânsito de veículos e impossibilidade de estacionamento, houve indignação, e todos ficaram exaltados, falando como se tivessem doutorado em trânsito pela “Sorbonne”. É mais ou menos igual ao papo de futebol, todos entendem, todos são peritos e especialistas, mais craques do que os jogadores. Ponto pacífico foi a inegável constatação de que o trânsito está cada vez mais caótico não só aqui em nossa cidade, mas em todo o planeta, nas grandes capitais e até nos pequenos vilarejos. Neste momento, todos ficaram um tanto filosóficos, um pouco pelo álcool, outro pouco pela alusão ao velho planeta super populoso e super desgastado. Houve quem dissesse: “é, o carro é uma perdição …”
É lógico, se aumenta a população, aumenta o número de carros. Mas que um dia tudo vai parar, ah … isso vai. Aliás, já está parando. Tive uma amostra clara dessa situação numa missa no Santuário de N.Sra. da Agonia. Depois da cerimônia, ninguém conseguia sair. É verdade que na pressa, muitos colocaram carros em locais que impediam a saída de outros, como veículos dos dois lados da rua, carros que subiam, carros que desciam. Foi o caos total, e por quase meia hora, ninguém pôde se mexer. O que fazer? Mudam-se as mãos das ruas, ficam os motoristas proibidos de estacionar aqui e ali, mas nada refresca, ao contrário, a cada dia temos a impressão de que as coisas estão piorando.
Também contribuí com minha idéia. Deixamos os carros e voltamos às charretes, pronto. De agora em diante, fica proibido dirigir carro pela cidade, a não ser em caso de extrema necessidade, porém o que não sei ainda é como definir essa extrema necessidade. Para uns é procurar um hospital, para outros levar os filhos aos colégios, e para outros ainda é comprar cerveja que já falta na geladeira. Mas, vamos falar da charrete, aquele veículo que é conduzido pelo cavalo. Quando eu era menina, já faz tempo, quando chegávamos na rodoviária, íamos para casa de charrete. Era só chegar ali adiante que havia um ponto de charretes e pasmem, poucos carros. Sem estresse, sem barulho, sem poluição, ao que um componente do grupo alegou que haveria poluição sim, pois os cavalos defecam quando andam, deixando um lastro de cocô esverdeado pelas ruas. Pois para mim, isso é melhor do que o gás mal cheiroso que sai dos caminhões e carros também. Que defequem os cavalos! Penso já emocionada na avenida BPS com vários pontos de charretes!. Novos empregos seriam criados, com licença tirada na Prefeitura.
Evidentemente que com o aumento da população, o número de charretes também seria insuficiente. Depois se pensa, como diz meu marido. Minha proposta é ecológica e pacífica, isso ninguém pode negar. Dentro dos automóveis as pessoas são bem mais agressivas. Fiquemos com as charretes ou quem sabe, apenas com os cavalos. Já pensaram como seria?
Da mesma maneira que escolhemos os carros, passaríamos a escolher os cavalos: branco, preto, marrom, de preferência mais novos porque animal também merece aposentadoria. Os mais ricos poderiam comprar cavalos importados e de raça nobre, como os cavalos árabes. Nós, os remediados, compraríamos pangarés. Quem mora em casa, faria um pequeno pasto para seu cavalinho e quem mora em prédios, bem, penso que as construtoras teriam que inovar. Nos anúncios de corretoras imobiliárias certamente poderíamos ler: “apartamento assim, assim, e com até duas baias para cavalos e área comum de pastagem”. Nas ruas, “estacionaríamos” os equinos, amarrando o cabresto em paus disponibilizados pela Prefeitura, tal como nos filmes de faroeste. O que ainda também não consegui definir é como assegurar que os cavalos não fossem roubados. Mentira, consegui sim, já sei: prisão perpétua para ladrões de cavalos e pena de morte para quem maltratá-los. Aposto que podia dar certo.