Em algum momento da sua vida, você recebeu o diagnóstico de que teria um filho com deficiência. Pode ser síndrome de Down (T21), Autismo, TDAH ou qualquer transtorno do neurodesenvolvimento. Não importa o diagnóstico. A primeira coisa que passa pela cabeça da família que recebe um diagnóstico são as dúvidas quanto ao desenvolvimento daquela criança.
Será que vai andar? Será que vai falar? Será que sofreremos muitos preconceitos? Ou viveremos numa família e sociedade que irá acolher e respeitar?
Dentre todas as dúvidas e questionamentos que circundam a vida da família que tem um filho com deficiência, constam também as dúvidas sobre a educação formal. E a escola? Será que a criança conseguirá acompanhar o ritmo da escola regular? Aqui reside o ponto de partida do nosso artigo: A educação escolar formal e o direito à educação.
Tomemos como base o direito central, descrito na Constituição Federal: “Art. 205: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
A educação escolar formal é um direito de todos, independentemente de sua condição e visa “ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. É aqui que te faço uma pergunta bem importante: O que você deseja do seu filho com deficiência?
Eu responderia: Desejo que a minha filha Maria Alice, com síndrome de Down (T21), hoje com 12 anos de idade, seja uma jovem e adulta com autonomia, ciente dos seus direitos e deveres, que tenha respeitado o seu direito de ir e vir nos espaços públicos e que lhe seja dado o direito de aprender a ler e escrever.
E você poderia me perguntar: Mas, Claudia! Todas as crianças com deficiência conseguem aprender a ler e escrever? E eu te responderia: Todas têm o direito ao acesso à educação formal e todos os familiares deveriam ter o DEVER de tentar. Não existe resposta exata quando se fala em aprendizado, no entanto, todos têm o direito de tentar. Aonde você chegará com todas as tentativas? Você só saberá depois de ter tentado.
Então, o que fazer para ajudar o seu filho com deficiência?
O primeiro passo é entender que vivemos num mundo letrado. As letras e palavras estão presentes no nosso nome, nas placas nas ruas, nos itens do supermercado, nos letreiros dos ônibus, nas receitas de bolo, nos manuais de instruções e na comunicação escrita através dos celulares e redes sociais. Só aqui já dá para entender o quanto a alfabetização liberta, dá autonomia e liberdade de ir e vir.
O local da educação formal é a escola. Todos sabemos, e seria repetitivo te dizer que família e escola devem estabelecer uma forte parceria e JUNTOS, traçarem um planejamento e seguirem, rumo ao desenvolvimento do filho/aluno com deficiência. Essa premissa, todos já conhecem. O difícil, num mundo que ainda está em construção da inclusão que merecemos, é ENCONTRAR essa parceria.
Família e escola vivem um momento de ajustes e conflitos em relação à entrega dos resultados. Muito se fala sobre acolhimento nas escolas, respeito e atendimento de qualidade. Não posso negar que existem muitas escolas se esforçando ao máximo para encontrarem suas respostas. Mas, enquanto família, o que presenciamos é uma entrega fragilizada e com poucos resultados reais.
Onde está o avanço? Há quantos anos a criança frequenta a escola? O que temos de concreto para comemorar? Até onde a escola avançou no quesito alfabetização? Aqui entra a família e suas constatações. Estamos avançando devagar, mais ainda temos muito o que fazer.
Uma forma efetiva de fazer acontecer é, entender o quanto a alfabetização liberta e melhora a comunicação da pessoa com deficiência e partir para fazer acontecer. Você é família? Busque uma escola parceira, faça sua parte em casa e não descanse até conseguir. Eu sugiro, como ponto de partida, que você (família), implante uma rotina diária de desenvolvimento. Sendo ou não da área de educação, crie um espaço na sua casa que será o cantinho do aprendizado e, todos os dias, dedique 30 min para ensinar tudo que você acreditar que estimula e desenvolve o aprendizado. Ensine letras, cores, números. Pinte, cante, brinque com jogos educativos e cobre da escola um planejamento individualizado e questione sempre sobre os avanços do seu filho.
Sempre fui professora e minha primeira formação foi em magistério, sempre amei criança e educação infantil. Quando recebi o diagnóstico de que teria uma filha com síndrome de Down (T21), confesso que uma das minhas preocupações foi sobre a alfabetização. Desejava muito que ela aprendesse a ler e escrever. Quando chegamos na escola, achei que tudo seria simples. Mas, Maria Alice passou pela sala da alfabetização e não aprendeu a ler e escrever. Até os nove anos de idade ainda não estava alfabetizada. Eu cheguei até a pensar que não conseguiria, mas não desisti. Resolvi fazer acontecer. Coloquei “as mãos na massa”, reservei um tempo e todos os dias eu ensinava um pouco. Aos 9 anos ela aprendeu a ler e escrever.
A conquista da alfabetização de Maria Alice me fez querer ensinar o caminho que segui para o mundo. Queria mais crianças lendo e escrevendo e mais mães e famílias alcançando seus sonhos de ver seus filhos com deficiência lendo suas primeiras palavras.
Hoje, é isso que faço através das redes sociais, ensino mães e famílias a desenvolverem seus filhos e alcançarem a tão sonhada alfabetização. Toda caminhada começa com o primeiro passo. Hoje, você ainda pode estar pensando que é difícil. Eu te convido a iniciar a jornada e, lá na frente, conversaremos sobre os avanços.
Claudia Carla Rêgo
Criadora do Método AFA – Alfabetização Adaptada para pessoas com deficiência
@afaalfabetizacao