Ultimamente, tenho assistido missa aos domingos às 7.30 na Matriz da Soledade. Ali minha irmã e eu nos encontramos com nossa prima e ficamos juntas. Minha prima, uma espirituosa e perspicaz observadora que nunca perde nada do mundo que sempre acontece, logo me chamou atenção para observar um menininho. Assíduo frequentador daquelas missas ele vai com a avó para ajudar na coleta. Imagino que ele deva ficar com os pais lá atrás porque quando vai se iniciar o Ofertório, a avó e outras mulheres se dirigem para a entrada da igreja de modo a fazer uma pequena procissão até o Altar e aí que aparece nosso pequeno personagem que vem triunfante de mãos dadas com a avó.
Imagino como ele deva ser tomado pela ansiedade enquanto o Ofertório não começa. Imagino seus olhos atentos para ver a avó que surge para buscá-lo. Logo, lá vem o menino com a avó e ele aparece tal qual um pequeno aprendiz de um virtuoso guerreiro ou fidalgo. Tudo fará para cumprir à risca sua nobre função. Compenetrado, diligente e cheio de orgulho, ele se apressa a segurar a “salva”, aquele apetrecho com cabo de madeira e saco de veludo para recolher as ofertas na igreja.
O garoto é pequeno, miudinho, magrinho, vem sempre vestido bem arrumado, simples. Ao se aproximar de nosso banco, percebo que seus olhos brilham denunciando que este tem sido o momento mais importante de sua pequena vida. Talvez pretenda ser um acólito quando crescer, e mais tarde, talvez um seminarista, padre, bispo e quiçá até Papa, afinal os Papas já foram todos meninos um dia.
Não resta dúvida de que ele é um menino feliz, cheio de vida, amado pelos pais e avós. Do que mais uma criança precisa para ser feliz? E agora nesses tempos caóticos há quem batalhe pelo fim da família, há quem batalhe para que haja produções independentes, para que os bebês sejam separados dos seus pais! É verdade que nem todas as crianças são amadas, não, não são, eu sei. Sei que muitas são humilhadas, abusadas. Infelizmente, em todas as épocas e lugares existiram e existem adultos cruéis.
Querido menino, você não me conhece, mas se pudesse ler e entender o que escrevo, saberia que eu o conheço profundamente. Seja feliz garotinho, que o mundo o espera!
Misa Ferreira é autora dos livros: Demência: o resgate da ternura, Santas Mentiras, Dois anjos e uma menina, Estranho espelho e outros contos, Asas por um dia, Na casa de minha avó e Ópera da Galinhinha: Mariquinha quer cantar. Graduada em Letras e pós graduada em Literatura. Premiada várias vezes em seus contos e crônicas. Embaixadora da Esperança (Ambassadors of Hope) com sede em Calcutá na India. A única escritora/embaixadora do Brasil a integrar o Projeto Wallowbooks. Desde 2009 Misa é articulista do Conexão Itajubá, enviando crônicas e poemas. Também contribui para o jornal “O Centenário” de Pedralva.