Acho que nunca vou me esquecer de uma frase de Nelson Mandela: “Todas as coisas são impossíveis até que sejam feitas”. Verdade verdadeiríssima! Já li também numa clínica uma frase mais ou menos assim: “Ele não sabia que era impossível, então foi lá e fez”. Quando nos é passada uma mensagem que tal coisa é impossível ou que nós não conseguiremos fazê-la, nossa mente aceita, assimila e pronto, não vamos fazer, sequer tentaremos. É o tal caso do besouro que li num livro do Guimarães Rosa. O besouro não poderia voar. Sua compleição, medidas, forma e peso do corpo não lhe permitem voar, mas ele voa e alto, alto até a luz do poste, pelo menos. Mas eu vos pergunto: o besouro sabe que não pode voar? Não. Se ele soubesse, talvez não voasse.
Pois é, transpondo para nossa condição humana, verificamos que somos capazes de proezas incríveis, vencemos obstáculos intransponíveis, porém apenas quando nos vemos em uma situação limite. Normalmente guardamos nossas ousadias e preferimos ações mais comedidas. E nossa vida acaba sendo uma monótona sucessão de ações comuns. O foco todo parece estar centrado não naquilo que podemos ou não, mas no que ACREDITAMOS que podemos. Não está no poder, está no crer. O besouro não pode voar, mas não sabe disso, acredita que pode e voa. A águia pode voar, mas se criada entre galinhas, acredita que não pode e não voa.
Em um documentário de televisão já foi mostrado que pessoas que nasceram com deficiência no cérebro, contra todas as evidências científicas, desenvolveram aptidões normalmente tidas como impossíveis. O cérebro, vamos dizer assim, molda-se à situação exigida. A força da mente é demais! Diga a uma pessoa do que ela é capaz e observe. De outra maneira, diga do que não é e também observe.
Gosto muito de um livro que sempre trago comigo: “Não apresse o rio, ele corre sozinho”. A autora, Barry Stevens, relata em determinado ponto, que nunca acreditou no diagnóstico dos médicos que alegava que ela sofria de lesão permanente no sistema nervoso central. Afirmava ela: “Lesão, sim. Permanente, não. Que se danem aqueles médicos que há catorze anos me disseram para aceitar minha condição tal como ela era porque jamais eu iria melhorar.” E porque ela acreditou que a lesão não era permanente, ela pôde desfrutar de uma vida saudável, o suficiente para trabalhar e se encantar com o mundo, com a dádiva da vida, com o tesouro do conhecimento, com a beleza da natureza, com tudo.
Então, chamem do que quiserem, fé, obstinação, força da mente, o fato é que acreditar faz toda a diferença. Perdi muito tempo em minha vida, achando que eu não era capaz de muita coisa. Porém, um dia uma pessoa muito intuitiva se referiu a mim como “aquele furacão”. Aquela frase dita num determinado momento, num determinado lugar e com tal determinação caiu como um raio sobre mim. Eu era um furacão e nunca tinha percebido. Daí por diante assumi a força do furacão. É muito comum que uma criança ou jovem sejam destruídos por rejeições, por frases negativas ditas por alguém cruel e essas palavras más soam como decretos, como maldição que acompanham a gente pela vida afora.
Não deixem que as palavras más determinem sua vida, não aceitem os rótulos, desafiem os diagnósticos mesmo aqueles cientificamente comprovados, aceitem a fé, a força da mente, a força do desejo porque somos bem maiores e melhores do que supomos e quando descobrimos que dentro de nós existem dons e talentos adormecidos, ah é uma delícia acordá-los. São tesouros, presentes de Deus. Sim, você pode! Nós podemos!
Misa Ferreira é autora dos livros: Demência: o resgate da ternura, Santas Mentiras, Dois anjos e uma menina, Estranho espelho e outros contos, Asas por um dia, Na casa de minha avó e Ópera da Galinhinha: Mariquinha quer cantar. Graduada em Letras e pós graduada em Literatura. Premiada várias vezes em seus contos e crônicas. Embaixadora da Esperança (Ambassadors of Hope) com sede em Calcutá na India. A única escritora/embaixadora do Brasil a integrar o Projeto Wallowbooks. Desde 2009 Misa é articulista do Conexão Itajubá, enviando crônicas e poemas. Também contribui para o jornal “O Centenário” de Pedralva.