“Quando tenho tempo sobrando, faço muito pouco do que preciso fazer; quando não tenho tempo para nada, consigo fazer quase tudo que preciso!”
É o paradoxo do tempo sobrando – e do tempo faltando, também. Como explicar a ocorrência dessas duas situações contraditórias? O tempo é um dos grandes mistérios da Criação. Nada intriga mais o ser humano do que as questões sobre seu uso e o rigor de sua passagem ao longo da vida. Nada ocorre no Universo sem a sua intervenção.
Quem não gostaria de ter domínio do tempo para aproveitá-lo em suas máximas possibilidades? Como lidar com a sensação de que, ao perdê-lo, estamos perdendo também parte da própria vida?
Observando a generalidade das pessoas em suas atividades diárias, concluí que é mais fácil encontrar quem reclame da falta de tempo do que pessoas que dizem tê-lo sobrando. Estudantes, executivos, profissionais liberais, etc., acham que deveriam ter mais do que 24 horas por dia para realizar todas as suas tarefas.
Dizer que não se faz quase nada quando se tem tempo sobrando e se faz quase tudo quando tem pouco tempo é uma realidade comum para a maioria das pessoas.
Depois de refletir sobre esse comportamento contraditório, que já experimentei diversas vezes, cheguei à seguinte explicação: quando estou em atividade, minha mente consegue produzir soluções, decisões, análises, etc., e o ritmo das funções da inteligência permite resolver os problemas do dia-a-dia. Consigo, inclusive, fazer bons planos para quando estiver “folgado”, com tempo sobrando.
Porém, quando chega a situação de superávit de tempo, o que falta é a vontade para pôr em ação os planos que pensei quando estava em atividade. Ou seja, a pessoa que fez o plano para as férias, por exemplo, parece não ser a mesma pessoa que está, agora, tentando usufruir delas.
Esta contradição tem sua máxima expressão em uma situação particular, que pode ser chamada de “o paradoxo do aposentado”. Neste caso, o excesso de tempo livre pode ser um problema.
É o tal paradoxo supracitado: a pessoa que está aposentada não é a mesma que estava na ativa. A que estava na ativa tinha problemas para resolver, projetos para conduzir, questões sobre as quais tinha que pensar; estava, enfim, com a mente em movimento. E, em função dessa mesma atividade, foi capaz de criar dezenas de projetos para fazer quando tivesse tempo.
O paradoxo da falta de tempo é exatamente o contrário. Quando tenho muitas tarefas e tempo faltando para realizá-las, costuma ser mais fácil fazer tudo – ou quase tudo – que tem que ser feito, do que na situação inversa, quando tenho tempo em excesso.
Nessa situação, a capacidade de fazer o que havia proposto enquanto estava na ativa simplesmente desaparece, pois falta o poder executivo (vontade) em ação. Neste contexto, vontade deve ser entendida como uma força capaz de mover todo o mecanismo psicológico do ser humano, incluindo os pensamentos, ideias, o exercício do pensar, refletir, entender, etc. Por isso podemos considerar a vontade como sendo o poder executivo.
As experiências que tenho vivido mostram que a atividade é o que dá conteúdo à vida. Cessou a atividade, esvazia-se a vida. Manter um ritmo de atividade física e mental constante e a dedicação aos projetos concebidos já é metade da solução para não cair no paradoxo do tempo sobrando.
Depois de experimentar esses ciclos de tempo, cheguei a uma conclusão que me tem sido muito útil: do ponto de vista da criação de estímulos e da manutenção de um estado mental produtivo, é preferível sofrer o paradoxo do da falta de tempo do que do tempo sobrando – desde que a falta de tempo não seja tão estressante a ponto de produzir desequilíbrios físicos e psicológicos.
Outra forma de ver esse paradoxo é compreender que não é o tempo que sobra ou falta. O que está em jogo, em termos de ganhos e perdas, é a própria vida. Se durante um dia inteiro faço inúmeras atividades, e outra pessoa, no mesmo período, não faz nada, para quem o tempo representou algum valor?
Vale a pena lembrar o que ensina a Logosofia:
“O tempo é a essência oculta da vida. É a própria vida, em todo seu percurso”.
Tenho aprendido que aproveitar o tempo é sinônimo de aproveitar a vida. Não há outra maneira de tornar a vida rica em conteúdo e realizações, a não ser transformando o tempo em algo que seja também útil e produtivo para mim e para os demais.
Um pensamento de Eduardo Barbosa