Há mais ou menos cinquenta anos não se falava nisso. Quero dizer, não se falava em preocupação com o planeta, em escassez de água, imagine! Tirando as Vidas Secas e sofridas que Graciliano Ramos nos apresentou em seu romance, para cá no Sudeste era bem verde o nosso vale e sempre correu muita água. Porém, aos poucos fomos tomando contato com a nova realidade que se descortinava. A população foi se multiplicando, o lixo se acumulando, a quantidade de carros expelindo gases poluentes e consequentemente uma nova consciência foi se formando. Afinal, a casa é nossa e se nada fizermos a respeito, teremos de procurar outro planeta em outra galáxia porque este vai se esgotar. Há quem diga que não, que é exagero, que a própria natureza vive assim, entre esgotar-se e renovar-se. Pode ser. Só que somos nós que não teremos tempo e meios para sobreviver no planeta cansado.
Como a arte imita a vida e mais ainda a vida imita a arte, fico muito impressionada com os filmes e livros que tratam da destruição da Terra e do novo início com os poucos humanos remanescentes que têm de recomeçar do nada, contando apenas com o que a natureza oferece. Faz sentido. Chegamos ao século XXI num cenário deprimente de catástrofes ecológicas, ameaça nuclear, de experimentos desenfreados da engenharia genética e uma sociedade mais injusta, é claro. Haverá meios para impedir que esse nosso planeta acabe assim? Bom, as conferências se proliferam, como a Rio+20 e outras do gênero, propostas e acordos são feitos e assinados. Assim, talvez possamos dormir mais tranquilos. Certo? Não.
As coisas não são tão simples assim. Os acordos são entre os países mais ricos, pelo menos assim se diziam até bem pouco tempo atrás, e os países mais pobres, sendo que os primeiros não reconhecem que estragaram e estragam mais o planeta do que os outros. E não podemos nos iludir, o mercado regula tudo. O que não trouxer vantagem econômica para os ricos, não vai ser posto em prática. É só para inglês ver, como se costumava dizer. Jeito tem sim e para muita coisa, podem diminuir a poluição, inventando carros elétricos, movidos a vácuo, podem descobrir curas para doenças graves, e outras maravilhas de que o homem é capaz, porém no final, vence o poderio das indústrias gigantes.
E nós, os cidadãos comuns, a que ficamos? Resta a nós a reflexão, como eu disse no início, os protestos possíveis e as pequenas grandes decisões e ações. É claro que não dá para salvar o planeta, mas melhora a vida da gente e dos que estão próximos. Minha avó, que era pessoa simples e pobre, sempre morou pagando aluguel. Vivia se mudando de uma casinha para outra e morreu sem nunca conseguir ter sua casa própria. E o bonito é que em cada casa que morava, ela transformava o pequeno quintal ressecado e cheio de cascalhos em um belo jardim. A natureza é de todos e para todos.
Com as mãos nuas, amaciava a terra, regava, e dali brotavam samambaias, margaridas, begônias e grama fofa. Sempre hei de me lembrar do herbário que tive que fazer como tarefa da escola e de minha avó que, carinhosamente, ia colhendo e me falando o nome de cada planta. Depois ela deixava a casa e o jardim que tinha feito e se mudava. Começava tudo de novo. O exemplo ficou para nós de que sempre se pode voltar às coisas simples como forma de resgatar a felicidade no planeta que esperamos poder ver azul e verde como no princípio dos tempos.