Há poucos dias assistimos ao deplorável evento em que Jaqueline Roriz foi absolvida na Câmara dos Deputados. Em um vídeo claro e preciso, a moça foi vista recebendo propina de Durval Barbosa, aquele do escândalo do mensalão do DEM, que culminou com a prisão de José Roberto Arruda, então governador do Distrito Federal. Pois é. Jaqueline escapou da cassação, graças ao corporativismo dos colegas. Sua defesa alegou que o caso da propina aconteceu antes de Jaqueline exercer o mandato de deputada federal e assim sendo, ela não poderia ser julgada pelos atos pregressos de sua vida.
Em seu discurso, Jaqueline, com ares de vítima, não negou o fato, usou como desculpa o sofrimento da família e pôs a culpa na imprensa, alegando que hoje em dia se vive um período em que parcela da mídia “devora a honra de qualquer pessoa”. Há que se perguntar: que honra? De quem? Onde e quando? Honra é o que menos se acha em quem aceita propina, ou seja, grande parte dos políticos. A rotina dos escândalos que pipocam há décadas e décadas no cenário político de Brasília faria corar de vergonha o Senado Romano em seus piores corruptos momentos.
Entre meus guardados encontrei um artigo de Ives Gandra da Silva Martins, de 2004, em que ele diz que “no poder, todos são iguais, tristemente iguais”. Há quem se salve da lama que encharca e emporcalha o Planalto, mas são muito poucos, a julgar pelo episódio da absolvição de Jaqueline Roriz. Os que são diferentes perfazem um número tão insignificante que realmente quase não contam. Era de se esperar, não poderia ter sido de outra forma. Não sei por que ainda insistimos em acalentar uma pálida esperança de que um dia a corrupção seja extinta do cenário brasileiro e possamos ter políticos leais e honestos, pessoas que almejem o bem estar do povo.
O que espanta é a ousadia de um político que é desmascarado e tenta a todo o custo e sem qualquer vestígio de pejo, permanecer no poder e o que espanta mais ainda é o apoio que recebe dos colegas, afinal são farinha do mesmo saco e muitos deles em alguma época também já aceitaram propina e podem um dia passar pelo mesmo processo da despudorada deputada.
Gandra cita um verso de Rotrou (Inocente Fidelidade) que vem bem a propósito da propina recebida e da absolvição de Jaqueline: ” … todos os crimes são belos, quando o trono é o preço”. O crime de Jaqueline permanece impune e ela permanece no trono ou no poder, cercada pelos seus iguais.