A princípio, era apenas uma doença que se espalhava rapidamente na China, que migrou para o Velho Mundo e em pouco mais de 3 meses, passou a figurar entre as maiores pandemias da história.
Havia uma expectativa de que no máximo em 6 meses a situação estaria controlada e, com pequenas mudanças de hábitos (principalmente sanitários), as pessoas voltariam a sua vida normal. Bem, infelizmente, as expectativas dos especialistas eram otimistas demais. A situação de pandemia se prolongou muito mais do que esperado e já estamos completando quase um ano de pânico e, pelo cenário que se apresenta, essa situação está longe de chegar ao fim.
Essa situação mudou o estilo de vida dos brasileiros. De acordo com a pesquisa coordenada pela Dra. Déborah Carvalho Malta , da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, os brasileiros passaram a praticar menos atividade física, aumentaram o tempo dedicado às telas (TV, tablet e/ou computador), reduziram o consumo de alimentos saudáveis e aumentaram o de ultraprocessados, como também o consumo de cigarros e de álcool, em decorrência das restrições sociais impostas pela pandemia. Com esses resultados, o estudo confirmou a hipótese inicial da pesquisa, comprovando que durante a pandemia da COVID-19, houve piora nos fatores de risco comportamentais, aumentando os riscos à saúde. Situação que também, foi encontrada em estudos desenvolvidos em outros países.
Infelizmente, a pandemia não atingiu apenas a saúde das pessoas. Ela também atingiu em cheio o bolso das famílias. De acordo com dados do Instituto Paraná Pesquisas, 82,8% da população brasileira foi financeiramente impactada pela crise, seja pelo desemprego, corte salarial ou queda brusca de receita.
Essa situação demonstra um severo agravamento do bem-estar financeiro das famílias. De acordo com uma pesquisa conduzida pela Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) , 62% da população brasileira não conseguiu economizar dinheiro em 2019 e entrou em 2020 sem qualquer reserva financeira para algum tipo de emergência. Se a situação já era grave em 2020, imagina como está em 2021.
Entretanto, é necessário tirarmos o máximo possível de aprendizado dessa situação pois, de acordo com a frase atribuída a Regis Mesquita , “o pior da crise é passar por ela e não aprender nada”. Assim, te pergunto: o que você aprendeu de educação financeira com a COVID-19?
Claro que não há uma única resposta para essa pergunta, por isso vamos elencar alguns pontos que, por repetidas vezes, tratamos aqui no Conexão Itajubá, que são:
1. Controle o seu orçamento doméstico
De acordo com a pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) , quase 50% dos brasileiros não adotam nenhum método para controlar o próprio orçamento. Sendo que desses, 25% confiam apenas na memória para anotar as despesas, 20% não fazem nenhum registro de ganhos e gastos.
Por outro lado, dentre os que controlam, a frequência de análise do orçamento é inadequada. A maior parte (39%) anota os gastos pessoais quando ocorrem, enquanto 27% só contabilizam os números ao final do mês, o que pode comprometer a qualidade das anotações e levar a decisões equivocadas.
Portanto, controle suas movimentações financeiras adequadamente. Não precisa ser nada muito mirabolante. Use um caderno simples mesmo. Somente com o controle do seu orçamento você poderá reavaliar os seus gastos mensais e fazer ajustes nas contas.
2. Compre apenas o necessário
Se você começar a controlar o orçamento doméstico, você conseguirá atingir esse segundo objetivo mais facilmente. É imprescindível ter consciência de quais gastos são efetivamente essenciais.
Ao longo dessa pandemia, as compras on-line cresceram exponencialmente. Entretanto, muitas delas foram realizadas por impulso, principalmente porque, em isolamento, podemos confundir o que desejo com real necessidade.
Assim, antes de fazer qualquer compra faça três perguntas: Eu preciso? Tem que ser agora? Consigo pagar? Se houver a negativa em alguma das respostas, repense a necessidade da compra.
3. Gaste menos do que você ganha
Se você conseguir mudar os hábitos e se adequar usar no dia a dia os itens anteriores, certamente você conseguirá gastar menos do que ganha. A cultura que temos de gastar todo o salário ao longo do mês compromete a sua capacidade de manter uma folga no orçamento.
Por isso, algumas mudanças nos hábitos de consumo são fundamentais, como por exemplo, controlar melhor os gastos com transporte, adequar a moradia à sua realidade e escolher melhor os produtos no supermercado e na padaria.
4. Faça uma reserva para emergências
Fazer uma reserva para emergências ficará bem mais tranquila se conseguir cumprir os três itens anteriores. Será quase impossível fazer uma reserva sem alterar os hábitos de consumo, ainda mais considerando as perspectivas econômicas mundiais.
Como já comentamos em outros episódios do Painel de Educação Financeira, procure manter uma reserva com valor que gire em torno de 3 a 7 vezes a sua renda mensal. Ou seja, se a sua renda mensal é de R$ 1.000,00, você deve fazer uma reserva entre R$ 3.000,00 e R$ 7.000,00. Pode parecer um valor elevado e alto. Entretanto, lembre-se que vamos completar um ano em estado de crise.
5. Fique atento às taxas de juros
Os juros consomem significativa parcela da renda dos brasileiros, isso porque o percentual de famílias endividadas chega a quase 70% . Apesar da taxa básica de juros da economia estar no patamar mínimo da série histórica (Taxa SELIC = 2% ao ano) as taxas médias de juros para as operações de crédito para as pessoas físicas voltaram a subir em 2021 . Os juros do comércio são, em média, de 72,33% ao ano e as taxas praticadas pelos cartões de crédito podem chegar a 258% ao ano.
Sabemos que não é fácil, mas se você começar com essas pequenas mudanças cotidianas, temos certeza de que logo você viabilizará a organização do seu orçamento familiar. O que melhorará o seu bem-estar financeiro, porque será possível realizar sonhos ou projetos que até então pareciam impossíveis.
Nos veremos em breve, mas para isso, cuide-se. Até!
Autores:
Prof. Dr. André Luiz Medeiros
Prof. Dr. Moisés Diniz Vassallo
Prof. Dr. Victor Eduardo de Mello Valerio
DENARIUS – Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira
Instituto de Engenharia de Produção e Gestão (IEPG)
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).
O painel de educação financeira é uma parceria do programa Conexão Itajubá com o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira (DENARIUS UNIFEI).
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