No final de semana do dia dos trabalhadores, quando todos deveriam refletir e reconhecer a força de trabalho como essencial para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, isso acaba nem passando pelo modelo mental das pessoas, inclusive dos próprios trabalhadores. Neste mesmo final de semana, tivemos um jogo de futebol da Liga Inglesa (Premier League), entre o Manchester United e Liverpool sendo cancelada em função de protestos da torcida do Manchester United. Os torcedores fizeram um protesto em frente o estádio e alguns chegaram a invadir as dependências, forçando a Premier League cancelar a realização do jogo por questões de segurança. Mas a motivação e origem por de trás dessa atitude dos torcedores, deveria alertar também os torcedores e dirigentes brasileiros. É comum identificar na Europa, grandes clubes que foram comprados por milionários que usam como fonte de receitas, ou seja, um negócio. Durante muito tempo aqui no Brasil, houve uma corrente defendendo que os clubes se transformassem em clube-empresa, principalmente pela maneira amadora que os clubes daqui são administrados, levando-os a aproximar da falência como hoje é o caso do Botafogo do Rio entre outros. Mas na minha visão, são duas questões totalmente diferentes. Não devemos corrigir a ineficiência de gestão, entregando os clubes para novos proprietários e originando problemas como tem se evidenciado em vários casos no planeta. Vou tentar expressar essa lógica por um exemplo acontecido em minha vida, ou seja, um caso real: Em 1992, após ser barrado por algumas vezes na portaria da sede do clube de Regatas do Flamengo (na Gávea), eu como Flamenguista fanático me dava o direito de sentir que o clube era meu, pois vivia o dia a dia do clube através das ondas da radio Globo, Tupi e Nacional e ficava muito aborrecido de não conseguir entrar com minhas filhas que eram crianças. Isso me levou a comprar um título patrimonial do clube (mesmo na época não tendo condições financeiras muito favoráveis para esse investimento). Na época paguei em 15 penosas parcelas e posso dizer que sei o que é o sentimento de um torcedor fanático. Mas o que isso tem a ver com a questão dos torcedores do Manchester United? Muito simples, após o clube ter sido comprado por uma família milionária americana (Grazer), os torcedores foram ignorados pelos donos do clube, tomando decisões sem levar em consideração os sentimentos nobres de seus torcedores, sua cultura, a questão social que envolve essas pessoas que entendem que o clube faz parte de suas vidas, de sua rotina e que trabalham durante toda a semana para no sábado poder desfrutar de sua paixão que vem de gerações, e são cultuadas com se fosse uma religião. O futebol não funciona como um mero negócio, pois os torcedores se sentem como donos e deveriam sempre ser considerados como tal, eles são os patrões. Sabemos que no velho continente houve vários casos em que os gestores sucatearam o clube para que pudesse vender mais barato em função do nível de endividamento. Agora vocês estarão entendendo o risco que corre os clubes brasileiros falidos sendo comprado por pouco dinheiro através de milionários com a ilusão de torna-los mais competitivos com grandes jogadores. A torcida apaixonada com certeza poderá cair nessa ilusão e entregar aos frios investidores aquilo que aquece os corações dos fanáticos torcedores. Assim, muito cuidado com propostas milagrosas para salvar clubes brasileiros e sacrificar ainda mais as apaixonadas torcidas.
Pelo menos essa é a minha opinião!