Emociona-me o relato de pessoas que, em atos heróicos, salvaram vidas. Recordo-me do homem que se achava com o seu iate no mar, quando se deparou com um naufrágio. Naquele instante, ele atirou tudo o que podia no mar, para que o espaço no seu barco pudesse abrigar as vidas que ele salvou. Profundamente comovido, ele declarou que estar naquele lugar, no momento da tragédia, foi o maior presente que já teve na vida. Quando indagado se ele se considerava um herói, transmitiu muita sinceridade ao afirmar que não encarava a sua atitude como um ato de heroísmo. Ao contrário, disse ser grato a Deus por ter sido agraciado com a oportunidade de salvar aquelas vidas.
A humildade daquele grande homem, responsável por um ato louvável, fez com que ele ainda assim se considerasse um devedor, e não credor.
Nós também diariamente temos a oportunidade de ser heróis.
São nos momentos tristes e difíceis da vida que as palavras de compreensão nos calam mais fundo. Nessas horas, desejamos as palavras de afeto como a luz é esperada pelo negror da noite, ou como aquele que se afoga espera o braço salvador.
O ato de heroísmo não surge somente em ocasiões raras ou diante de desastres, ele pode brotar dos gestos simples e freqüentes da nossa bondade na convivência humana. O amor ao nosso semelhante, transformado na palavra certeira e amiga, pode salvar alguns corações aflitos de um naufrágio de angústia, que também pode matar.
O propósito do bem é um dos elementos fundamentais para nos dar segurança nas atitudes diárias. Raramente erramos quando são os pensamentos de construção e bem que orientam e dirigem as nossas palavras.
As palavras são setas que podem voar com o sem direção.
É a nossa reflexão que estabelece o destino que elas devem seguir, que se confunde com o próprio destino que damos à nossa vida.
O tempo que a flecha corta o ar até tocar o alvo corresponde à paciência e o amor que oferecemos no que falamos.
As borboletas jamais voam em vão: além de transportar o pólen vital para o bosque, encantam o nosso olhar com a beleza de suas cores.
Nossas palavras devem voar como borboletas, cujas asas jamais agridem e todos desejam delas se aproximar.
Nas estradas longas e escuras, quando avistamos um lugar bem iluminado, sentimos vontade de parar no oásis de luz no breu da noite.
Quando aprendemos a ouvir e ter a palavra certeira para ajudar aqueles que nos procuram, tornamo-nos também um lugar iluminado, onde haverá sempre os que desejarão parar para receber um pouco da luz que podemos oferecer.
Raramente esquecemos aqueles que nos ensinaram algo importante.
Para sermos recordados, é preciso que a nossa presença ensine: seja com o exemplo, seja com as palavras que pronunciamos nos instantes oportunos da nossa generosidade.
Nos jardins públicos as árvores cobertas de espinhos são as mais preservadas, porque as crianças não podem subir em seus galhos. Mas esses vegetais estão condenados a sofrer a indiferença de todos, porque não se deixam tocar pelos que visitam o jardim.
Assim são as pessoas que se vestem de espinhos e ferem com suas palavras e atitudes: às vezes até conseguem proteger seus desejos e não ser incomodadas, mas não podem escapar do desprezo, do esquecimento e da falta de afeto, que só quando doamos calor humano em nossas palavras temos o poder de evitar.
Uma pessoa de minhas relações, que foi morar no exterior, reencontrou-me.
Após falarmos sobre nossas vidas, disse que gostaria de me agradecer, porque as minhas palavras a ajudaram a superar os momentos difíceis pelos quais recentemente havia passado.
Eu externei que estava comovido, mas também surpreso, já que não nos falávamos há muitos anos.
Ela reafirmou que foram úteis os conceitos de vida que eu lhe havia transmitido na festa do primeiro aniversário da minha filha Kelvian, que já estava com 15 anos.
A palavra de bem não se corrompe com o tempo, pode se manter viva no coração. É como a semente, que conserva a vida até o momento de ser plantada e nascer para a luz.
A única palavra de bem que não tem o poder de germinar é aquela que não foi doada: ficou apenas na mudez da intenção.
As cordas vocais estão localizadas entre a mente e o coração. Deus quis assim para que nossas palavras traduzam sempre o equilíbrio entre a razão e o sentir.
As palavras, quando não estão prontas para sair, precisam ser guardadas e gestadas no útero íntimo da reflexão. Soltá-las é como empurrar do ninho a ave implume, que não está pronta para voar.
O autor: Jarbas Mattos é administrador, empresário, consultor na área de desenvolvimento do potencial humano e docente da Fundação Logosófica. É profundo investigador dos segredos da mente e dos conhecimentos superiores que envolvem o sentido da existência.