Menor ativação do circuito de recompensa do cérebro poderia motivar maior ingestão de alimentos
Obesos comem mais para compensar o menor prazer que sentem quando comem. É o que conclui um estudo americano publicado na Science desta semana. A explicação, segundo os pesquisadores, está na quantidade liberada de um neurotransmissor – a dopamina – que influencia o grau de prazer trazido pela ingestão de alimentos. Pessoas que têm menos receptores de dopamina no cérebro precisam de mais comida para obter a mesma sensação de prazer, o que as torna mais propensas a ganhar peso.
Os pesquisadores utilizaram imagens ressonância magnética funcional para observar a extensão da ativação da área cerebral na qual há a liberação de dopamina durante o consumo de alimentos – o estriado dorsal. Essa ativação foi medida em resposta à ingestão de um milk-shake de chocolate e de uma solução bem menos saborosa, com gosto similar à saliva.
A foto realça a área cerebral monitorada durante o estudo – o estriado dorsal, região em que há a liberação de dopamina após a ingestão de alimentos. O estudo mostrou que o padrão de ativação dessa região está associado ao índice de massa corporal de um indivíduo (foto: Sonja Theodora Petronella Spoor).
Os testes foram feitos com 76 mulheres, com idade entre 14 e 22 anos, que tiveram as alterações na massa corporal monitoradas durante um ano. As participantes que tiveram uma ativação mais fraca da área do cérebro monitorada tiveram maior tendência a engordar após o período de observação.
“Nosso estudo oferece evidências de que respostas anormais em regiões cerebrais ligadas à recompensa aumentam o risco de um futuro ganho de peso”, diz à CH On-line Eric Stice, pesquisador da Universidade do Texas em Austin e primeiro autor do artigo. “Pessoas obesas experimentam uma menor recompensa ao comer do que indivíduos magros. Isso provavelmente os leva a comer mais que o necessário para compensar o déficit.”
O estudo investigou também se o ganho de peso das participantes estaria ligado à presença do alelo Taq1A1 – variação genética responsável por um menor número de um tipo de receptor de dopamina. Os resultados mostraram que as portadoras dessa variante tiveram maior tendência a ganhar peso.
“Essa descoberta possibilita que pessoas que tenham esse alelo não sejam orientadas a utilizar medicamentos associados ao ganho de peso, como alguns fármacos antipsicóticos, por exemplo”, afirma à CH On-line Dana Small, professora da Escola Médica da Universidade Yale. Small também é autora da pesquisa – a primeira a combinar dados genéticos e de ressonância magnética funcional para prever a tendência ao ganho de peso.
Prevenção da obesidade
Os autores ressaltam, no entanto, que a interpretação dos resultados não exclui totalmente a possibilidade de que essa resposta menos satisfatória à ingestão de alimentos seja uma adaptação à alimentação excessiva dos obesos. “É possível que essa resposta mais lenta seja fruto de uma desregulação dos receptores de dopamina, ocorrida devido a um longo histórico de uma dieta não saudável”, explica Eric Stice.
Dana Small ressalta que, mesmo que seja esse o caso, é possível que a própria adaptação incremente ainda mais o risco de que um indivíduo sinta necessidade de comer em excesso.
Os pesquisadores acreditam que outros estudos do mesmo gênero devem chegar a resultados similares em homens. Eles acreditam que a descoberta da influência da resposta cerebral de recompensa à ingestão de alimento possa auxiliar a formulação de medidas de prevenção à obesidade.
Fonte: Ciência Hoje