Enfim, a partir do momento em que os cientistas ouviram um som que seria o barulho de fenômenos que aconteceram no universo há bilhões de anos, a ciência se depara com uma nova porta. Na realidade esta porta sempre existiu, sempre esteve lá e sempre esteve aberta. Einstein já havia percebido e alertado os cientistas sobre ela. Só que daqui para frente será possível atravessar esta porta e descobrir sabe-se lá mais o quê: mais e mais novas possibilidades e novidades para a humanidade, antes só imaginadas em livros e filmes. Falam já na incrível possibilidade de viajar no tempo, coisa que me encanta e me espanta.
Bem, e nós com isso? Perguntando mais educadamente, o que isso afeta nossas vidas atuais com nossos problemas diários? Aí é que está: estes nossos problemas são e serão sempre pequenos diante da grandiosidade do mistério da existência humana, mas para nós que temos que botar a mão na massa diariamente, são problemões. Assim, tão rapidamente após a notícia não é possível para nós em nossa leiguice compreender a dimensão e importância das ditas ondas gravitacionais. Mas uma escritora e professora de física esclareceu a dimensão dessa novidade que me satisfez plenamente: comparou esta “descoberta” com o impacto que teve em nossas vidas o advento da eletricidade ou do raio X. Imagine viver sem a eletricidade, sem o raio X e outros exames decorrentes que possibilitaram o tratamento de diversas doenças. Meus avós em sua juventude usavam lampiões, que podem parecer românticos, mas nada práticos para nós em nossa modernidade. Minha mãe disse que a melhor invenção para ela havia sido a do chuveiro elétrico e dizia com gosto: “ah, o banho de chuveiro elétrico é uma gostosura!”. Vamos mais além: como é que vivíamos ou sobrevivíamos sem a internet?
A empolgação científica, deixo para os físicos e entendidos, eu caminho por outra estrada, a do encantamento, a da literatura, dos romances e contos que povoaram a mente de tantos escritores que se inspiraram em possibilidades científicas, em ficções futurísticas, que o diga Ray Bradbury com suas histórias em mundos alternativos. Fico doidinha de pensar em naves espaciais chegando a planetas misteriosos, em civilizações avançadas, em viajar no tempo, em todas essas alucinações e desejos malucos.
Não estamos preparados ainda. Nunca ninguém esteve, tudo e todos a seu tempo. Talvez e muito provavelmente as viagens no tempo acontecerão. E depois? Não haverá mais mistérios? É claro que sim. Os mistérios fazem parte da nossa natureza, são essenciais. O homem, inconformado com a massacrante realidade e com a lógica das coisas, será sempre movido pela necessidade de buscar e desvendar mistérios. Já dizia Guimarães Rosa: “Toda lógica contém inevitável dose de mistificação. Toda mistificação contém boa dose de inevitável verdade. Precisamos também do obscuro”.
Agora, descoberta que faça o homem ser feliz, isso é outra conversa.