Nesta sala, ele os organizava em círculo e dizia:
– Vocês podem escolher morrerem flechados ou passar por aquela porta.
Todos escolhiam morrer rapidamente pelos arqueiros.
Ao término da guerra, um soldado perguntou:
– Senhor, o que havia atrás da assustadora porta?
– Vá e veja – respondeu o rei.
O soldado, então, a abriu vagarosamente e percebeu que a porta conduzia o prisioneiro à liberdade. Admirado, apenas olhou para o rei, meio sem entender. E o monarca explicou:
– Eu dava a eles a escolha, mas preferiam morrer! Os covardes temiam passar por algum sofrimento maior.
E você, leitor, quantas portas deixou de abrir por medo de se arriscar? Se Nossa Senhora não confiasse em Deus e dissesse ‘não’ ao anjo Gabriel, como seria a história da salvação? E Moisés, teria libertado o povo do Egito sem ter sofrido e se entregado à vontade do Criador? Jesus Cristo, que era 100% Deus e 100% homem, também teve medo e, mesmo com todas as provações, fez prevalecer o desejo do Pai, certo?
Portanto, confiando sempre na vida eterna e aproveitando cada oportunidade de fazer o bem, estaremos caminhando para a libertação da alma. E trabalhando com amor no coração, aproveitamos mais oportunidades de sermos regidos por Deus – nosso grande Maestro!
Para completar esta reflexão, vale a pena conhecer uma história real de alguém que fez o bem e não se arrependeu:
Há vinte anos, em face de rodar no turno da noite, o táxi de um bom homem tornou-se um confessionário. Os passageiros contavam suas alegrias e tristezas.
Nenhuma viagem tocou mais o coração do motorista do que a de uma velhinha que transportou no mês de agosto. Ele havia recebido uma chamada de um pequeno prédio, numa rua tranquila do subúrbio. Imaginava que iria pegar pessoas de fim de festa, ou talvez um trabalhador indo para o turno da madrugada em alguma fábrica.
Quando chegou às 2h30, o prédio estava escuro, com exceção de uma única lâmpada acesa no térreo. Em vez de buzinar, o motorista foi até a porta e bateu. Uma octogenária pequenina apareceu, usando um vestido estampado e um chapéu bizarro – que mais parecia aqueles usados nos filmes da década de 40. Trouxe consigo uma valise de nylon.
Quando embarcaram, ela deu-lhe o endereço e falou:
– Por favor, vá pelo centro da cidade.
– Não é o trajeto mais curto.
– Eu não me importo. Não estou com pressa, pois meu destino é um asilo de velhos. Não tenho família e o médico disse que minha vida está no fim.
Nas duas horas seguintes, passearam de táxi. Ela mostrou-lhe o edifício que havia trabalhado como ascensorista; andaram pelas cercanias em que ela e o esposo tinham vivido como recém-casados; depois, ela pediu-lhe que passasse em frente a um depósito de móveis, que havia sido um salão de dança que frequentou quando mocinha. De vez em quando, pedia também para dirigir vagarosamente em frente a um edifício ou esquina e ficava com os olhos fixos na escuridão, sem dizer nada.
Quando o primeiro raio de sol surgiu no horizonte, ela falou:
– Estou cansada, vamos agora.
Viajaram em silêncio e chegaram a uma pequena casa de repouso. Dois atendentes muito amáveis caminharam até o táxi assim que parou. Ela sentou-se numa cadeira de rodas que trouxeram para o desembarque e perguntou ao motorista:
– Quanto lhe devo?
– Absolutamente nada – respondeu ele.
– Você tem que ganhar a vida, meu jovem! – insistiu a idosa.
– Há outros passageiros que irão pagar – falou o bom homem, com lágrimas nos olhos.
Quase sem pensar, ele curvou-se e deu-lhe um abraço. Ela, então, se despediu:
– Você proporcionou a esta velhinha bons momentos de alegria. Muito obrigado por dar um pouco mais de sentido no final da minha existência. Que Deus o recompense.
Assim que a porta do asilo foi fechada, encerrou-se o ciclo de mais uma vida. Naquele dia, o motorista não pegou outros passageiros. Dirigiu sem rumo, perdido em seus pensamentos: ‘E se a velhinha tivesse pegado um taxista mal-educado, ou algum que estivesse ansioso para terminar seu turno? E se houvesse recusado a corrida, ou tivesse buzinado uma vez e ido embora?’. Ao relembrar, ele concluiu que jamais fez algo mais importante no trabalho.
Pois é, estamos condicionados a pensar que nossas vidas giram em torno de grandes momentos já planejados, mas oportunidades para grandes feitos nos pegam desprevenidos e, às vezes, ficam no esquecimento. Por outro lado, sempre haverá pessoas que nunca se esquecerão de coisas boas que fizemos.