Os termos piedade e misericórdia se confundem no significado. Alguns dicionários definem como sinônimos e, até nas missas, no ato penitencial, os consideremos iguais. As músicas de perdão repetem: ‘Misericórdia, Senhor!’ ou ‘Piedade de nós!’, o que significa que realmente os termos podem ser usados para a mesma finalidade.
Jesus disse: “Quero misericórdia e não sacrifício”; e nos deu a entender que as situações injustas devem ser mudadas – os excluídos precisam ser ajudados. E confirmou isto ao explicar que “os que têm saúde não precisam de médicos, mas sim os doentes”. Tudo se relaciona com o amor ao próximo, um dos dois maiores Mandamentos.
Então, vale a pena entender o significado de misericórdia: ‘Acolher no coração a miséria do outro’. A Virgem Maria, por exemplo, denominada ‘Mãe de Misericórdia’, recebeu este título para honrar sua imensa bondade. E quando nos referimos às obras de misericórdia, citamos diferentes modos de exercer a caridade, o que condiz com a conduta cristã tão valorizada por Cristo.
Eu ainda acho que o termo ‘misericórdia’ é mais forte que ‘piedade’, porque piedade se assemelha mais a ‘dó’. Para mim, ter piedade não significa acolher a miséria do outro no coração, mas simplesmente um sentimento de indignação. Misericórdia, porém, acrescenta amor ao fato de o próximo estar sofrendo, o que já é uma grande diferença entre os dois sentimentos.
Pois é, mas fica uma pergunta no ar: ‘Quem tem misericórdia de alguém é impulsionado a praticar a caridade?’ Sabemos que nem sempre isso acontece e, portanto, teríamos que achar outro termo que refletisse o sentimento de querer estar junto daquele que sofre. E esse sentimento de pesar já existe: compaixão!
Compaixão é mais que dó, mais que piedade e mais que misericórdia. Compaixão é um sentimento mais humano e não reflete apenas a tristeza que sentimos diante da dor alheia. Quem pratica a verdadeira caridade, comprometido em ajudar o próximo, sente compaixão. E não há como negar que o despertar da dor no coração de algumas pessoas as move a tentar minimizar o sofrimento do irmão – isso é compaixão!
Bartimeu, o cego de Jericó, suplicou: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim”; e ficou curado. Jesus, também tomado por compaixão, curou o paralítico e deu a ele saúde eterna, porque perdoou ainda os seus pecados. Na condição divina, Ele não via apenas as aparências, mas principalmente o que estava no coração.
A compaixão talvez seja a maior virtude humana porque é isenta de preconceitos e julgamentos. É por isso que o egoísta não desenvolve esse sentimento e se torna frio e calculista – insensível ao sofrimento alheio, como eram os fariseus. Quantos procuram um ouvido ou um ombro amigo na vida e não encontram! Os ouvidos estão dando mais atenção aos aparelhos eletrônicos; filhos pequenos têm computadores, mas faltam-lhes afetos humanos. Isso é justo?
Vale lembrar ainda que não devemos compartilhar o mal, o que significa que nem todo sofrimento merece compaixão, tipo: o invejoso que sofre por cobiça, o tirano que perdeu a guerra. Podemos, contudo, nos compadecer pelo sentimento de culpa de quem errou e se arrependeu, porque todo pecado merece perdão nas condições de arrependimento sincero e intenção de não mais errar. Como não conseguimos viver sem pecados, devemos buscar a graça de Deus no Sacramento da Reconciliação.
Então, numa escala crescente entre dó e caridade, eu colocaria: piedade, misericórdia e compaixão. A piedade se assemelha mais a dó, a misericórdia incorpora o sentimento de tristeza diante da dor alheia, e a compaixão desperta a vontade de se envolver na solução do problema. Quanto mais amor no coração, mais próximo de Deus estaremos.
Mas tudo isso depende da fé de cada um. Era no nosso tempo que Jesus estava pensando ao falar: “Quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?” (Lc 18,8). E o início do capítulo 11 da Carta aos Hebreus traz a definição de fé: “Ora, a fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se veem”. Unindo isto à mensagem bíblica de ‘onde estiver o vosso tesouro aí estará o vosso coração’, podemos concluir que já podemos tomar posse do Reino de Deus praticando a compaixão pelos pobres. E um lembrete importante: ‘A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido’.
Ninguém gosta de sofrer e a compaixão às vezes leva a isso. Porém, até no sofrimento alguns fazem piadas, como esta:
Um cidadão passou mal na rua e foi levado ao setor de emergência de um hospital administrado por freiras. Foi operado do coração e, depois de estar parcialmente restabelecido, a freira responsável pela tesouraria lhe perguntou:
– Caro senhor, sua operação foi bem-sucedida e o senhor está salvo. Como pretende pagar a conta? Tem seguro-saúde?
– Não, Irmã. Também não tenho dinheiro, filhos, emprego, nada! Eu tenho somente uma irmã solteirona que é freira, mas não tem um tostão.
– Desculpe, mas as freiras não são solteironas como o senhor disse. Elas são casadas com Deus!
– Então, por favor, mande a conta para o meu cunhado.
Hehehe… Misericórdia!
Ø Paulo R. Labegalini
Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).
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