O novo preço mínimo do café, fixado em R$ 307 a saca de 60kg desagradou os cafeicultores e entidades do setor. O valor de garantia anunciado pelo Ministério da Agricultura (Mapa) nesta terça (07) ficou abaixo do valor pleiteado para pôr fim à crise do café que já assola o país. O mínimo pedido pelo setor produtivo era de R$ 336, média nacional de custo de produção da saca, segundo cálculo do próprio Governo Federal (Conab).
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG), Roberto Simões, e o presidente das Comissões de Café da entidade e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Breno Mesquita, criticaram a decisão do Mapa. “A decisão demonstra insensibilidade do Governo com a gravidade e urgência do problema”, disse Simões logo após o anúncio. “Rasgaram o cálculo de custo de produção da Conab e não levaram em consideração o trabalho elaborado pela CNA/UFla. A pergunta é: de onde surgiu esse preço? O que o Ministério da Fazenda levou em consideração para criar esse marco de 307 reais?”
Mesma opinião compartilha o presidente das comissões nacional e estadual de café, Breno Mesquita. “Uma única palavra: decepção. Apesar de todo o trabalho e o empenho, fica nítido para o setor o desinteresse do Governo Federal com um problema que não é apenas do produtor do café, mas é do prefeito, do governador, do presidente e de todo o povo brasileiro, pela importância da cafeicultura para a geração de emprego e renda, e o impacto negativo gerado na economia de milhares de municípios”. Mesquita lembra que o impacto econômico da crise do café afetará mais de oito milhões de brasileiros que dependem de alguma forma da atividade: “Esses são os brasileiros que hoje perguntam ao Governo: de onde veio esse preço?”
Foi intensa a campanha mineira liderada pela FAEMG pela elevação do preço mínimo do café. O valor de garantia de R$ 261 não era revisto desde 2009. Nas últimas semanas, Roberto Simões esteve reunido com o ministro da Agricultura, Antônio Andrade, com o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, e com a senadora e presidente da CNA, Kátia Abreu, pedindo apoio à reinvindicação. A Federação mineira promoveu ainda intensa mobilização junto aos produtores, sindicatos, cooperativas e lideranças regionais da cafeicultura em todo o estado, com envio de centenas de e-mails, telegramas e telefonemas ao Ministério da Agricultura pela aprovação.
Segundo o presidente da FAEMG, mesmo com o anúncio do Mapa, a mobilização deve continuar. “O preço mínimo aprovado, de R$ 307 não será suficiente para pôr fim à crise do café. Temos a obrigação de reunir todo o setor e definirmos uma estratégia para continuar buscando as políticas de mercado que seriam a sequência lógica do processo: opções de compra e Pepro”.
Para explicar a origem da atual crise do setor cafeeiro, o diretor da FAEMG e presidente da Comissão Técnica de Cafeicultura da entidade e da CNA, Breno Mesquita lembra que o aumento progressivo do consumo do grão em todo mundo (crescimento médio de 2% ao ano) pautou um planejamento federal de aumento da produtividade do país para atender a demanda. “Assim, com a safra de ciclo alto do último ano e uma safra atual registrando volume superior à média dos anos de ciclo baixo, o mercado tornou-se fortemente especulativo, o que derrubou a cotação do café abaixo dos custos de produção” conta.
O presidente da FAEMG, Roberto Simões afirma que a implementação de políticas de garantia, com preço mínimo corrigido, financiamento e programas de leilões são medidas essenciais para pôr fim à crise no setor. “O consumo do café continua crescendo e não há estoques mundiais. Não há razão para essa permanência do café em patamares de preços tão baixos. Nesse momento, é preciso discutir novamente uma política de sustentação e de garantia do produtor, que dê novo alento ao mercado”.
Simões lembra que a medida já foi utilizada, com sucesso, em cenários semelhantes, sem grande ônus à União. Ele cita, como exemplo, o programa de opções de compra pelo Governo. “O Governo nunca precisou comprar estoques grandes, basta sinalizar que há garantia e o mercado tende a reagir”, explica.
Se Minas fosse um país, seria o maior produtor mundial de café. Para se ter uma ideia, no ano-safra 2012/2013, uma em cada cinco xícaras de café consumidas no mundo saiu de Minas Gerais. Maior colheita nos 300 anos de cultivo do grão no Brasil, a safra 2012 totalizou 50,48 milhões de sacas em todo o país, um crescimento de 16,1% em comparação com a anterior. Deste total, 26,63 milhões (cerca de 52%) tiveram origem em Minas Gerais, em área plantada de 1,1 milhão de hectares, distribuídos por mais de 600 municípios.. Segundo a OIC a produção mundial no período foi de 127,41 milhões de sacas, o que confirma a participação mineira da ordem de 20,9%. Para 2013, safra de ciclo baixo, a produção esperada para o país é de cerca de 47 milhões de sacas, sendo 25,7 milhões produzidas em Minas Gerais.
Em 2012, o café respondeu por R$ 11,4 bilhões (produção e indústria), ou 8,6% do PIB do agronegócio mineiro, que somou R$ 132,4 bilhões. O Valor Bruto da Produção de Café em 2012 somou R$ 10,9 bilhões, com a saca comercializada a um preço médio de R$ 407,60. O VBP do café representa 31% do valor da soma dos 20 principais produtos agrícolas de Minas Gerais. Para 2013, o VBP de café está estimado em R$ 8 bilhões.
O café é também o principal produto de exportação do agronegócio e o segundo na pauta total de Minas Gerais, atrás apenas do minério de ferro. Em todo o ano de 2012, as exportações de café por Minas Gerais somaram US$ 3,8 bilhões, o equivalente a 48% das vendas internacionais do agronegócio. Os principais destinos foram Alemanha, Estados Unidos, Japão e Itália, que juntos responderam por 59,8% das compras de café. Somente no primeiro bimestre de 2013, 2,8 milhões de sacas saíram de Minas rumo ao exterior, rendimento de US$ 561,1 milhões.
Fonte: Assessoria de Comunicação – Lavras