
“A minha primavera,
Não a sua,
Inda se esconde
Por trás
Do inverno da alma.”
Este é um pequeno poema que escrevi em 2013 (ano da morte do Marco), quando chegou para todo o Hemisfério Sul a primavera. Não para mim, entretanto. Para mim ainda era um inverno gelado e escuro.
Nesses anos todos percebo que o frio cedeu um pouco, algumas flores nasceram no meu mundo e quando olho em volta há um pouco mais de sol brilhando no céu. Sei que nunca mais as cores serão as mesmas e que as plantas do meu jardim hoje são mais bromélias do que flores do campo; mas há mais vida onde já foi um deserto.
Antes e depois, mais perdas me assombraram e é por isso, talvez, que a luz já não entra mais por todas as frestas da alma.
Mas não é apenas pelas perdas de gente querida que a alma se enrijece e o frio retorna; tenho medo também pelo que acontece no mundo.
Ódio e guerras, antes, só aconteciam lá longe, em meio à miséria e à ignorância.
Entre nós, não. Éramos emergentes, e o futuro de forma nenhuma nos parecia sombrio. Éramos imunes às tragédias.
Não somos mais.
Uma guerra civil pode muito bem estar sendo gestadaentre nós, país tradicionalmente pacato e da paz: ricos e pobres, bandidos e cidadãos mais ou menos corretos, políticos e povo de todas as tribos.
Isso me intriga: o que anda fazendo o nosso país, alegre e festeiro, com o Carnaval mais famoso do mundo (isto tem os seus problemas também, mas certamente mostra alegria), se transformar aos poucos num país dividido em “facções” agora sociais e especialmente políticas, com gente tentando matar gente de ideologias diferentes, e gente roubando de forma metódica e quase institucional o que não é seu, e que não veio do trabalho?
E embora a lógica do capitalismo não seja propriamente gentil e comunitária, o que fez dele, no mundo e aqui, se tornar cruel como agora?
E qual a saída comum a todos os povos, quando começa a nascer um novo paradigma, o da comunicação em rede, da afetividade como valor desejável, o da espiritualidade como valor maior?
Não vou ver esta Nova Era, mas de onde estou hoje, torço por ela…
Profa. Adjunta de Tanatologia e Cuidados Paliativos
Faculdade de Medicina de Itajubá – MG