Um dia vendo TV, tive dificuldades em responder esta pergunta: ‘O que você já fez de mais importante na sua vida?’. Confesso que, no momento, muitas coisas me vieram à cabeça, mas não tive discernimento para concluir. Depois, fiquei refletindo: ‘Com certeza, meu grande gesto não me beneficiou financeiramente, nem agradou somente a mim, não deve ter acontecido há tanto tempo, também foi algo muito abençoado… O que foi, então, meu Deus?’. Bem, o fato é que até hoje eu não sei exatamente o que dizer, mas vou contar um caso que sempre lembro e agradeço aos céus.
Numa sexta-feira de 1998, logo que comecei a minha caminhada de vicentino, fui visitar uma família no Bairro Santa Rosa e fiquei impressionado com o que vi. O casal e seis filhos pequenos viviam num local fedido, sem luz, banheiro entupido, fogueira no meio da sala – não tinham gás para cozinhar o restinho de alimento que sobrou –, vidros das janelas quebrados, roupas sujas, enfim, viviam abaixo do limite da miséria.
Impulsionado pelo espírito de caridade de São Vicente de Paulo, fui buscar o Secretário da Ação Social do Município e o levei para ver de perto a situação. Como ele também não dispunha de recursos para resolver tudo, corri atrás de gás, de encanador, de vidros na Casa Sulina, de alimentos e roupas limpas. Consegui também ajuda para pagar as contas de luz em atraso e para comprar um pouco de material de limpeza.
Passei o tempo todo correndo, mas bastou eu doar um único dia da minha vida para dar um pouco de dignidade humana àquela família. Acabou até sendo muito pouca dedicação para tantas melhorias! É por isso que eu agradeço a Deus por tudo quanto acabei fazendo – iluminado pelo Espírito Santo.
Ah, e na segunda-feira, com outros membros da nossa Conferência, conseguimos creche para as crianças, alguns remédios e, após mais algum tempo, quando um emprego para a esposa do casal já estava quase certo na AFL, eles se envolveram numa confusão e saíram às pressas da cidade.
Você deve estar pensando que de nada adiantou tudo o que fizemos, porque a história começou e terminou muito triste, é isso? Eu não penso assim. Tanto é verdade que estou contando o caso como ‘um feliz exemplo de algo importante que fiz na vida’! E se pensarmos em ajudar o próximo somente na certeza que tudo terminará bem, as barreiras serão muito maiores.
Pense agora na vida de Jesus… Mesmo Ele sabendo do seu caminho à Cruz, teve pressa? Desanimou em algum momento? Anunciou o Reino com má vontade? E não considere que usou de forças sobrenaturais para resistir o sofrimento e a humilhação que passou, pois não foi isso que aconteceu. Jesus aceitou a vontade do Pai, amou e perdoou os irmãos – incondicionalmente!
E quando também penso nisso e vejo que o meu melhor gesto foi há tantos anos, sinto um pouco de tristeza, porque o ideal seria superarmos as nossas obras de caridade a cada dia. Embora eu não deixe de trabalhar nas coisas de Deus nem por uma só jornada, estou consciente que preciso melhorar e, talvez, esta história me ajude a lembrar disso no futuro:
Um dia, um homem recebeu a notícia de que acabara de ser nomeado mandarim. Ficou tão eufórico que quase não se conteve, e correu contar a um amigo:
– Serei um grande homem agora e preciso de roupas que façam jus à minha nova posição na vida.
– Conheço o alfaiate perfeito para você – replicou o amigo. É um velho que sabe dar a cada cliente o corte perfeito. Vou escrever o endereço.
E o novo mandarim foi ao alfaiate que, cuidadosamente, tirou suas medidas e, depois de guardar a fita métrica, disse:
– Há mais uma informação que preciso saber. Há quanto tempo o senhor é mandarim?
– Ora, o que isso tem a ver com a medida do meu manto?
– É que um mandarim recém-nomeado fica tão deslumbrado com o cargo, que mantém a cabeça altiva e estufa o peito. Assim, tenho que fazer a parte da frente maior que a de trás. Um ano mais tarde, quando os transtornos advindos da experiência o tornam sensato e ele olha adiante para ver o que vem em sua direção, aí costuro o manto de modo que a parte da frente e a de trás tenham o mesmo comprimento. E mais tarde ainda, depois que está curvado pelos anos de trabalho cansativo e humildade adquirida, então faço o manto de modo que as costas fiquem mais longas que a frente. Portanto, tenho que saber há quanto tempo o senhor está no cargo para que a roupa lhe assente apropriadamente.
O novo mandarim saiu da loja pensando menos no manto e mais no motivo que levara seu amigo a mandá-lo procurar exatamente aquele sábio alfaiate. Da mesma forma, estou pensando na providência Divina que me fez assistir o programa de TV e me levou à reflexão do meu melhor gesto na vida… Será que foi para me alertar que, comigo, aconteceu o contrário do mandarim e, agora, o meu manto encurtou na frente?
E você, qual é hoje o comprimento do seu manto?